Há muito o homem alimenta o desejo de ter um automóvel movido a Hidrogênio (H) e Oxigênio (O), emitindo água pura, ao invés de dióxido de carbono (CO2) e outros poluentes.
Talvez isso não faça diferença a alguns que não se importam com a qualidade do ar que respiram, mas para os ambientalistas seria um sonho.
A responsável pela concretização dessa possibilidade é a já conhecida tecnologia denominada célula a combustível, uma alternativa em que a combustão é realizada de maneira controlada, aumentando a eficiência do aproveitamento da energia liberada e de modo menos poluente.
Essa tecnologia já existe há 150 anos, mas não tinha utilidade prática. Por isso, foi só em 1960 que a agência espacial norte-americana Nasa desenvolveu o primeiro produto a ser aplicado nas missões espaciais.
“Não havia preocupação com o custo, mas com a segurança”, explica o físico do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), do Paraná, Patrício Rodolfo.
Hoje, a célula a combustível tem aplicação em quase todo o mundo. Não que os carros, por exemplo, estejam já em grande número se abastecendo em “postos de hidrogênio”.
Os países – EUA, Japão, Alemanha, França, Espanha, Itália, Canadá e Austrália – estão em fase de desenvolvimento, com protótipos em testes, ou seja, as grandes montadoras já têm carros rodando em fase experimental para a análises de uma série de fatores, como o aquecimento do veículo, ruídos produzidos e a potência, entre outros fatores.
“Antigamente este carro era vinte, trinta vezes mais caro, hoje é apenas o dobro do preço de um normal. Por esse e outros motivos é que acredito que essa será a principal tecnologia do futuro”, diz Rodolfo com entusiasmo.
Segundo o professor do Instituto de Química (IQ) de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), Ernesto Rafael Gonzalez, o alto custo é resultado da escassez do equipamento gerador de energia elétrica.
“As indústrias internacionais não têm estoque, trabalham em pequena escala, por isso a compra deve ser negociada antes”, explica Gonzalez.
A USP estuda sobre o assunto há 20 anos. A Universidade formou uma equipe com quatro docentes do IQ e vinte estudantes de pós-graduação que desenvolvem as células para pesquisas, importando apenas a matéria-prima.
Outras indústrias e laboratórios também apostam nesse sonho. É o caso do Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (Ipem), em São Paulo, a Petrobras e o Lactec, entre outros.
A maioria dessas empresas não comercializa, apenas estuda a tecnologia. Mas o Lactec foi além, o laboratório adquiriu três unidades de células a combustível de 200 kilowattes de potência, dos Estados Unidos.
Instalou uma nas suas próprias dependências há dois meses, para testes, pesquisas e levantamento de dados; outra na Companhia de Energia do Paraná (Copel), para uso no centro de processamento de dados (central de comando); e a terceira será ainda implantada no hospital que pesquisa câncer em criança no Paraná.
“Essas unidades são da tecnologia de ácido fosfórico, pois é a única disponível comercialmente em todo o mundo. Há outras quatro células que estão na fase de protótipos, e se diferenciam principalmente na temperatura e nos materiais de funcionamento, são elas: alcalinas, óxidos sólidos, carbonatos fundidos e polimétricos”, explica Rodolfo. Mas todos esses geradores de energia utilizam H e O, a diferença é similar aos combustíveis dos carros, que hoje utilizam o gás, a gasolina, o óleo diesel ou o álcool. “A importação do equipamento não foi fácil. Entramos com pedidos por intermédio do CNPq demonstrando que seriam feitas apenas pesquisas, sem fins comerciais, para que o governo isentasse os impostos”, contou o químico. O governo então facilitou a compra, que foi financiada pelo Lactec e pela Copel.
De acordo com Rodolfo, é importante que se faça uma campanha divulgando e conscientizando a sociedade dos benefícios que a célula a combustível traz principalmente ao meio ambiente.
“Agora no início do mês o gerente do projeto no Lactec esteve em Brasília para negociar como será empregada a verba, que já têm valores definidos, nessas pesquisas. Resta estabelecer um programa nacional, por meio do qual todos que estão estudando a metodologia devem se apresentar para obter fundos”, diz o físico.
Agência Brasil – Cecília Resende