por José Henrique Senna*
O mundo está vivendo o início de uma transformação, equivalente à revolução industrial. O século XX foi de grande prosperidade, baseada no extrativismo desenfreado dos recursos naturais e no acúmulo de resíduos gerados pelo uso e descarte dos produtos.
E baixíssima eficiência na transformação e utilização dos recursos. A mobilidade humana tem uma grande participação neste quadro.
Na produção e utilização dos veículos, nas indústrias fornecedoras que motiva e em incontáveis obras de infra-estrutura e engenharia. Este é o contexto mundial. E a partir dele, o desenvolvimento de uma nova ordem econômica.
A engenharia da mobilidade tem diversos desafios nesse desenvolvimento. Cabe aos cientistas e engenheiros multiplicarem a produtividade dos recursos, promovendo a redução da sua extração, a sua substituição por renováveis e re-encaminhando os seus resíduos.
As oportunidades estão em todos os campos: no desenho de veículos de baixíssima resistência aerodinâmica, no uso de veículos de maior capacidade, novos materiais, reciclagem, redução radical do peso e do consumo dos veículos e assim por diante.
Dentro desse contexto há duas questões que ganharam grande atenção este ano: a primeira é a da mudança do clima, cujo perfil foi traçado em detalhes por relatório do IPCC, da ONU. A outra é a de acidentes de trânsito.
Tem contornos dramáticos no Brasil, como mostram estudos apresentados pelo IPEA sobre o custo dos acidentes.
A temperatura do planeta se elevará, na melhor das hipóteses, de 1,5 C, podendo chegar a 6,0 C, afetando milhões de pessoas. O aumento de temperatura está relacionado ao aumento da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, como conseqüência da atividade humana, com destaque ao uso de combustíveis fósseis na geração de dióxido de carbono.
O Brasil é hoje um pólo de desenvolvimento de tecnologias da mobilidade. Por exemplo, com o etanol e o “flex-fuel”.
Ou com o desenvolvimento do ônibus a hidrogênio, liderado pela EMTU. Ou com o gás-diesel, o biodiesel, o bi-trem… O Congresso SAE BRASIL, em novembro, será uma grande chance de a comunidade da mobilidade discutir o aquecimento global, seus efeitos e a nossa contribuição, “well-to-wheel”.
Outra questão que o evento vai discutir é a dos acidentes de trânsito. O custo anual dos acidentes é de R$ 28 bilhões, com cerca de 35 mil mortos, quadro próximo à Europa, cuja frota é 10 vezes a brasileira.
A redução de 10% nesses números significa uma economia – ou aumento na capacidade de investimento do País – de R$ 2,8 bilhões. Se reduzirmos a cada ano 10% sobre o ano anterior, em 5 anos teremos economizado R$ 36,8 bilhões e evitado 46 mil mortes prematuras.
A engenharia da mobilidade tem grande contribuição a dar nesta redução. Há tecnologias de grande potencial já disponíveis e em desenvolvimento.
Por exemplo, o “adaptative cruise control”, dispositivo que mantém e adapta a velocidade selecionada para cruzeiro à distância mínima estabelecida ao veículo à frente – e o “electronic stability program”, sistema que devolve ao motorista o controle do veículo em uma curva com velocidade excessiva, entre diversos outras tecnologias.
A educação do condutor é outro aspecto de muita importância. Simuladores são bons equipamentos para isso, pois permitem que o candidato a condutor “viva” situações extremas.
Coibir excessos de peso, velocidade e tempo de direção tem também grande impacto na segurança. Como a tecnologia poderia contribuir nesses tópicos?
Queremos abrir o debate na comunidade da mobilidade, para buscarmos soluções aos desafios da criação dos meios que servirão à mobilidade humana na nova era que se inicia.
*José Henrique Senna é presidente do XVI
Congresso e Exposição Internacionais de Tecnologia da Mobilidade SAE BRASIL
e gerente executivo de Assuntos Institucionais do Produto da Scania Latin America