A Indústria automotiva no Brasil parece ter espantado de vez a nuvem negra que pairou sobre o mercado no ano passado. A chuva de lançamentos prevista para este semestre, e o entusiasmo que precede o Salão Internacional do Automóvel, a ser realizado de 12 a 22 de outubro, no pavilhão de exposições do Anhembi, em São Paulo, dão mostras de que o setor voltou a acreditar no seu desempenho, que chegou a registrar índices históricos em 97.
A maior parte das montadoras, como de costume, esconde a sete chaves as novidades que enfeitarão seus estandes no evento. Estratégia que amplia a possibilidade de gratas surpresas para os brasileiros.
O certo é que aquele que deve se concretizar como o maior evento do setor automotivo latino-americano do moribundo século XX será caracterizado por disputas abertas pela posição de vice-líder do mercado – entre Fiat e GM (apesar de as duas terem negócios em comum) e pela quarta posição – Entre Ford e Renault. A montadora de origem norte-americana, mesmo com o bom desempenho de mercado das suas picapes e dos seus carros com motor Zetec RoCam, continua a perder terreno para a francesa que se instalou no Paraná há cerca de dois anos.
Prestes a produzir na Bahia, a Ford vem apresentando regionalmente pelo país os reestilizados Mondeo e Explorer Limited 2001 e lançará, em dias próximos ao salão, um novo médio, o Focus, que pretende absorver os clientes do antigo modelo Escort, que ainda está no mercado mas sairá aos poucos.
A Renault entrou de vez na briga entre os líderes quando lançou o Scénic e o Clio brasileiros; um criando um novo nicho de consumo e o outro para competir na melhor fatia do mercado, a de populares. A sua primeira novidade deste ano foi a geração II da linha Mégane, sedã e hatch, que vem cumprindo, a contento, seu papel.
No salão, em outubro, a marca abrirá cortinas para o Clio sedã. Outra expectativa com ares franceses é o retorno da Citroën ao Salão. A marca ganhou novo alento com o retrospecto de vendas do Xsara (líder do ranking anual da Abeiva em 99 e 13,7 mil vendas desde seu lançamento, há 15 meses), está contente com o desempenho do interessante Berlingo e inaugura fábrica no Rio de Janeiro, no próximo ano, em parceria com a Peugeot. No seu estande no salão o público poderá conferir o Xsara Kit Car e o Picasso, que será fabricado no Brasil a partir do próximo ano.
Novos modelos para o Brasil
O Salão Internacional do Automóvel, maior evento do setor no Brasil e que acontece há 40 anos em São Paulo, funciona como principal vitrine do carro no país. Nele, alguns dos modelos expostos, geralmente as linhas reestilizadas e os lançamentos recentes ou previamente badalados, como o GM Celta e o Ford Focus neste ano, chegam às concessionárias nas semanas seguintes; outros, onde se incluem as surpresas, são os lançamentos do ano seguinte, cujos representantes de impacto na edição de outubro serão a Zafira, da GM, o sedã-médio Bora, da VW (que tirará o velho Santana das linhas de montagem) e o subcompacto Toyota Yaris. Não se pode esquecer que também estarão expostos os que nem chegarão por aqui, denominados de carros conceito.
A General Motors vai apresentar o Zafira, construído sobre a mesma plataforma do Astra e que chega com a pretensão de desbancar o Scénic; a grande vantagem da GM, que a princípio terá as mesmas motorizações do Astra, são os sete assentos; e a desvantagem é o preço, por volta de R$33 mil, R$2 mil a mais do que o carro Renault.
Outra novidade para o brasileiro será a picape Frontier, um carro da Nissan, empresa recém-adquirida pela Renault. A full size (picape grande), que estará no salão, será produzida a seis mãos: projeto original japonês com pitadas francesas, mas que será fabricada em São José dos Pinhais, no Paraná, a partir do segundo semestre de 2001, na unidade Nissan que está sendo erguida junto à fábrica Renault.
New Beetle ganha concorrente
O principal rival do New Beetle será apresentado ao público brasileiro: é o exótico PT Cruiser, da Chrysler, com motor 2.0, design retrô com toques futuristas e opções de câmbio manual ou automático (como o VW), e que em breve estará nas ruas do país.
Mas a VW também trará arma de grosso calibre: é um sedã bonito e moderno para brigar com o GM Vectra e com o novo Marea 2.4 20V. Conhecido no mercado norte-americano como Jetta, o VW Bora tem a mesma base do Golf, e chegará em duas versões de motorização: 2.0 de 115cv e 1.8 turbo de 150cv. Sua subsidiária Audi, por sua vez, vai apresentar a Avant, a superperua esportiva (sportwagon) mais rápida do mundo. Derivada da wagon A4, a Avant terá produção limitada em dez unidades/dia. Ela faz de zero a 100 km/h em 4,9 segundos, graças ao motor 2.7 V6 biturbo de 380cv.
Entre os automóveis mais aguardados ainda estão os superluxuosos Peugeot 607, sucessor natural do 605, produzido na França e que já roda nas ruas européias; e Alfa 156, perua esportiva que a Fiat trará junto com o compacto Alfa 147, com motor 2.0 de 150cv. No moderno francês pulsa um motorzão 3.0 de 210cv, que para roncar cobra nada menos que R$130 mil. No carro Peugeot destacam-se ainda os seis air-bags e os controles eletrônicos de estabilidade e de distribuição de força da frenagem. Mas, sem dúvida, a grande estrela será a superesportiva 360 Modena Spider, da Ferrari, outra marca do grupo Fiat.
Mercado é animador
Após o cancelamento da edição do Brasil Motor Show do ano passado, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva) e o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) preparam o XXI Salão Internacional do Automóvel, ao tempo em que externam seus números otimistas dos primeiros sete meses deste ano. A produção nacional do setor de autoveículos (automóveis, caminhões e ônibus) alcançou um crescimento de 24,25 em relação ao mesmo período de 99. E o melhor, está vendendo: um fator positivo de 15,69% no mesmo comparativo.
Saudoso da produção de 97 – 2,04 milhões de unidades -, o setor produziu 948,6 mil autoveículos nos últimos sete meses, 59,83% do total de 98 e 70,22% da produção de 99. Por si só esses números, em fase de constante crescimento, já geram expectativa de uma apresentação pomposa das montadoras no evento que se aproxima. O momento é tão animador que a badalada renovação da frota arduamente exigida pelas montadoras no ano passado foi esquecida momentâneamente. Melhor para o governo, que já há sete meses praticamente não fala no assunto, garantiu o economista Delfim Netto, em sua passagem pelo X Congresso da Fenabrave, realizado em Salvador..
Novos Celta, Focus e Clio sedã
Chevrolet Celta, Renault Clio sedã e Ford Focus são os lançamentos mais concretos entre os cogitados a ser visitados no Salão do Automóvel. O primeiro, que saiu do anonimato na inauguração da fábrica GM em Gravataí (RS), no mês passado, já trouxe a decepção de não ser o carro mais barato do mercado como antes anunciado; mas comporta uma tecnologia elevada que deve colocá-lo entre os mais comprados em 2001.
O Focus, por sua vez, será comercializado inicialmente na versão hatchback; o sedã, virá no ano que vem. tanto o hatch como o que virá posteriormente oferecerão duas opções de motor: 1.8 e 2.0. todos Zetec de 16V. Sem dúvida, o Astra terá que se movimentar para manter a liderança no segmento de médios. Já o Clio sedã é uma variação do compacto nacional Clio já conhecido, com as opções 1.0 e 1.6, as duas com 16V e motores produzidos na unidade da marca no Paraná. A diferença principal está na traseira, que ganha um porta-malas com capacidade para 510 litros, um dos maiores do segmento.
Dos ralis para o Anhembi
Uma das principais atrações do estande da Citroën em seu retorno ao Salão é o Xsara Kit-Car, ícone mais atual da tradição vitoriosa da marca no mundo de ralis. Montado sobre a plataforma do Xsara VTS 2.0 16V (tem a mesma motorização), foi adaptado para competições fora-de-estrada pela Citroën Sport, dona de um retrospecto de cinco vitórias no Rally Paris-Dakar, três no Paris-Moscou-Pequim, cinco no Rally da Tunísia, além de cinco títulos mundiais de construtores e de pilotos até 1997. O Citroën envenenado, que vai a 295cv de potência e virá ao Brasil, foi campeão francês de rali em 98 e 99 e, só no ano passado, venceu nove das dez provas da temporada, incluindo duas etapas do Mundial de Rally, na Córsega e na Catalunha.
O sonho – Em outubro, ela já estará com sete meses de conhecida; mas, como de costume, deve roubar todas as atenções no pavilhão do Anhembi: é a Ferrari 360 Spider, lançada em março no Salão de Genebra (a versão conversível da Modena que substituiu a 355), menina dos olhos dos executivos da montadora do cavalinho rampante e representante mais cobiçada na categoria de esportivos. Afinal, além de custar cerca de US$350 mil, ter carroceria toda em alumínio e um motorzão V8 3.6 litros e 405 cv de potência, somente três a quatro carros dessa marca são comercializados no Brasil a cada mês.