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A hora e a vez do Recall

Recall. Muito além de mais uma palavra do idioma inglês que caiu no uso dos brasileiros, o termo (traduzível por “chamar de volta” ou convocar), utilizado pela indústria automobilística para o recolhimento e troca de peças defeituosas dos veículos, está virando moda.

No mundo competitivo em que vivemos, as empresas correm atrás da concorrência, lançando produtos atrás de produtos.

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Inovações tecnológicas às vezes são colocadas nos veículos sem testes tão exaustivos como se deveria. Outras vezes a culpa é mesmo dos fornecedores das peças que compõem o veículo.

Componentes fabricados com falhas de projeto, mau uso de matéria-prima ou mesmo falta de testes mais rigorosos podem comprometer a durabilidade e a segurança do veículo, colocando em risco até mesmo a vida dos ocupantes. E, claro, não se podem descartar as falhas normais de um processo de produção em série.

Problemas de encoragem dos cintos de segurança do Palio 1.000 e de toda a linha Corsa: os mais recentes recalls de carros nacionais

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Desde 1969, quando a Ford — pioneira em recalls de automóveis no Brasil — assumiu publicamente um erro na montagem da caixa de direção do Corcel, convocando todos os proprietários a um serviço de ajuste, até os dias de hoje foram mais de 120 chamadas de todas as fábricas e diversos importadores, abrangendo algo como três milhões de automóveis. Naquela época havia um temor por parte dos engenheiros da Ford, que viram ali um possível fim do modelo. Ao contrário, a iniciativa valeu uma confiança ainda maior do público para com a marca.

Recentemente, nos Estados Unidos, a Firestone assumiu o mea-culpa dos defeitos dos pneus para utilitários ATX, ATX II e Wilderness AT. Cerca de 6,5 milhões de pneus fabricados com possíveis defeitos estão sendo trocados, na segunda maior operação dessa natureza já vista no mundo todo.

O complexo ajuste de alinhamento do Corcel, em 1970, foi corrigido com a fixação da caixa de direção em posição intermediária. Foi o primeiro recall da indústria brasileira.

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Apesar de a iniciativa ter partido da própria Firestone, foi a Ford que divulgou mais amplamente o programa, já que 62 mortes e mais de 100 pessoas feridas foram atribuídas ao problema. A marca chegou a suspender por duas semanas a produção de três fábricas de utilitários nos Estados Unidos, para formar um estoque de cerca de 70 mil pneus e facilitar a substituição dos que equipam o Explorer.

Caso ainda mais recente, e de proporções também assustadoras, é o dos cintos de segurança de todos os Corsas produzidos mundialmente — mais de 1,3 milhão só no Brasil. Uma fadiga no sistema de fixação pode provocar a soltura do cinto justamente quando se precisa deles, como ocorreu com um Pickup Corsa acidentado em Minas Gerais.

O curioso é que defeitos como este não aparecem em testes de impacto (crash-tests), pois dependem de uso prolongado para que possam ocorrer — no caso do picape, segundo a marca, a quilometragem superava 170.000 km.

Logo após a GM, a Fiat anunciou um recall de 320 mil Palios pela mesma razão — potencial soltura dos cintos –, mas sem registro de ocorrência em acidentes.

O Classe A capotou em testes de estabilidade da imprensa européia.
A Mercedes reviu o projeto, efetuou amplas modificações e até ofereceu carros
Classe C para os proprietários até chegar a uma solução.

Problemas com projeto e fabricação podem ocorrer logo após o lançamento do veículo no mercado. Isso ocorreu com o Classe A da Mercedes-Benz. Em testes de estabilidade pela imprensa européia, o veículo em slalom (ziguezague) capotou. Os engenheiros voltaram à prancheta e descobriram que os testes feitos em computador não previam situações como o teste extremo de “desvio de alce”, promovido regularmente pelos jornalistas com os candidatos ao título de Carro do Ano europeu.

Após vários estudos, a MB modificou amplamente a suspensão, rodas, pneus e adotou o controle de estabilidade, o que resultou em custos adicionais no projeto do veículo, não repassados ao valor final no mercado europeu.

Segunda maior convocação da história, a dos pneus Firestone atinge 6,5 milhões de unidades, às quais se atribuem 62 mortes. No Brasil equiparam o Ford Explorer.

Já a Audi enfrentou problemas de estabilidade em alta velocidade com o TT, que resultaram em modificações de suspensão e adoção de spoiler traseiro. Os acidentes ocorreram em autoestradas alemãs, razão pela qual a marca demorou a oferecer o recall em países de limites de velocidade mais baixos, como Estados Unidos e Brasil. Curiosamente, muitos usuários preferiram não adotar o spoiler, preferindo estética a segurança…

A maioria dos defeitos apresentados em carros importados para o Brasil decorrem da má adaptação do veículo às condições nacionais, a chamada tropicalização. Normalmente ela é feita em itens como suspensão e sistema de alimentação, adaptando o veículo às condições de estrada, combustível e clima.

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