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Movido a óleo de cozinha

Extraído de sementes de girassol, soja e coco, O biodiesel polui menos que o diesel e já abastece ônibus e caminhões na Europa

Desde que o motor a gasolina cuspiu sua primeira baforada, sempre se soube que era preciso buscar alternativas para substituir o petróleo que acabará um dia. No Brasil, o álcool gerado a partir de cana-de-açúcar virou programa de governo em 1975, quando parte da frota de carros aderiu ao Proálcool. Nos últimos 25 anos, a pesquisa de novos combustíveis nunca estacionou. Alguns projetos andaram, outros nem tanto. Resultado de uma reação química que mistura óleo vegetal e álcool de cana, o biodiesel está entre as opções mais promissoras. Ocuparia o lugar do óleo diesel usado por ônibus e caminhões, um subproduto do petróleo que lança na atmosfera partículas de enxofre danosas ao meio ambiente e aos pulmões humanos. A pressão internacional para reduzir a emissão de poluentes acelerou a corrida por novos combustíveis.

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Aditivo – Usado na Europa há cinco anos, o biodiesel serve como aditivo ao óleo diesel, como acontece na França e na Suécia, ou para colocar um motor em marcha, como na Alemanha, Áustria e Itália. Só a Alemanha consome 300 mil toneladas anuais de óleo biológico. “Misturado numa proporção de 5% ao óleo diesel, o combustível vegetal ajuda a reduzir a emissão de partículas de enxofre e o efeito lubrificante ameniza o desgaste do motor”, explica o técnico Júlio Takejiro Ueta, do Instituto de Motores Independente, de São Paulo.

A receita é simples e pode ser feita de forma caseira (leia quadro). Para fabricar o biodiesel é possível usar uma ampla variedade de grãos. Os mais eficazes são soja, girassol e colza, plantação que cobre de amarelo os campos franceses e adapta-se ao clima frio do Sul do País. Outras plantas apropriadas são os coqueiros e as palmeiras típicas do clima tropical, que produzem diversos sabores de óleo vegetal, entre os quais se destaca o dendê.

“Nenhuma outra terra no mundo tem potencial igual ao do Brasil para a produção de óleo vegetal”, diz o agrônomo alemão Dietrich Schmidt. Estudioso dos combustíveis brasileiros desde a década de 60, Schmidt esteve em São Paulo na semana passada para pregar o uso do óleo de cozinha ou, como dizem os cientistas, o biodiesel de éster metílico de óleo vegetal.

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Embaixador do biodiesel europeu, o alemão Schmidt diz que a meta da Alemanha é substituir, em dez anos, 5% do combustível diesel por biodiesel. “Nosso interesse é comprar o excedente da produção de óleo vegetal brasileiro para abastecer os mil postos alemães que oferecem biodiesel”, resume o agrônomo. Os motores a óleo vegetal possibilitam uma redução de 11% a 53% na emissão de monóxido de carbono, e os gases da combustão do óleo vegetal não emitem dióxido de enxofre, um dos causadores da chamada chuva ácida.

Embora tardia, a preocupação em reduzir poluentes também chegou ao Brasil. “Desde 1997 fazemos óleo diesel com menos partículas de enxofre e a médio prazo pretende-se chegar aos mesmos níveis internacionais”, diz o engenheiro químico Luiz Felipe Cruz, da refinaria da Petrobras em Cubatão. “Quando se fala em preservação do meio ambiente, estamos atrasados cinco anos em relação à Europa e aos Estados Unidos”, explica o doutor em engenharia mecânica Francisco Baccaro Nigro, chefe do setor de motores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, o IPT. O instituto já testou a potência e o consumo de motores movidos a óleo vegetal. “O maior problema é o preço do combustível, duas vezes maior que o diesel”, diz Nigro. Além de contribuir para reduzir a emissão de poluentes, o biodiesel amenizaria outros problemas. “Seria excelente para resolver fixar o homem no campo, na agricultura”, explica o cientista do IPT.

Para testar engrenagens movidas a biodiesel, Júlio Ueta já começou a estocar o óleo vegetal descartado por uma pastelaria em São Paulo. “Esse combustível poderia ser usado em geradores de energia ou até mesmo nos motores de barcos que cruzam os rios no meio da floresta amazônica”, explica o técnico do Instituto de Motores Independente. Apesar das apostas, ainda está distante o dia em que ônibus e caminhões serão movidos a óleo de cozinha. “Mesmo com todas as pressões ambientais, o Brasil levará de quatro a cinco anos para adotar o biodiesel”, prevê o técnico Ueta.

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