Oficina mecânica era, até algum tempo atrás, sinônimo de sujeira e, o que é pior, de dúvida.
Basta lembrar: quantas vezes você deixou seu veículo com um mecânico e, após a reparação, ficou com uma “pulga” atrás da orelha por conta do orçamento que em muito superava o gasto previsto com o probleminha que o carro tinha?
Pois bem. A aplicação cada vez maior da eletrônica embarcada nos automóveis, bem como a necessidade de uma avaliação mais precisa dos sistemas de segurança e emissão de poluentes, resultaram no uso de equipamentos igualmente sofisticados nas oficinas, capazes de detectar com precisão a existência de falhas, quaisquer que sejam elas.
Tais aparelhos podem analisar o comportamento da injeção eletrônica, freios, suspensão, enfim, de todos os sistemas, mecânicos e elétricos, que compõem o veículo.
Como conseqüência desta revolução, o “achismo” – responsável, em alguns casos, pelo diagnóstico de falhas – deu lugar a uma avaliação “científica” do veículo.
Os equipamentos de diagnose passaram então a atuar como uma ferramenta auxiliar do profissional de reparação sem, contudo, substituí-lo. Entretanto, engana-se quem imagina que o mecânico de automóveis é o único beneficiado pelas novas tecnologias.
“Os equipamentos proporcionam maior confiabilidade à avaliação do veículo, e quem ganha com isso é, sobretudo, o consumidor”, afirma César Pimentel Rocha, supervisor comercial da Alfatest, um dos principais fabricantes de equipamentos para reparação automotiva do país.
A menina dos olhos desse segmento é a linha de inspeção de segurança veicular, desejada por nove entre dez proprietários de oficinas que visitaram a Automec, feira de autopeças e equipamentos realizada no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo.
O motivo: esse equipamento é, na essência, o mesmo que será empregado nos centros de inspeção veicular oficiais para avaliar os itens de segurança dos veículos em circulação quando o programa, previsto no Código de Trânsito Brasileiro, entrar em operação.
Trata-se de um sistema computadorizado composto por diversos módulos que avaliam os sistemas individualmente.
O teste da suspensão, por exemplo, é realizado sobre plataformas que vibram até que o sistema atinja seu ponto de maior e menor aderência.
Por meio de um gráfico de ressonância, produzido a partir do teste de vibração, pode-se determinar a capacidade de amortecimento dos componentes (amortecedor e molas) da suspensão.
O frenômetro, por sua vez, é capaz de medir a eficiência de frenagem e pode, inclusive, verificar o desgaste dos componentes do sistema. Por fim, a medição do desvio lateral sobre placas que se movem lateralmente avalia o alinhamento do carro.
Tamanha sofisticação custa caro – e muito: dependendo da quantidade de equipamentos, uma linha de inspeção pode custar entre R$ 60 mil e R$ 110 mil.
Por enquanto, apenas 40 oficinas em todo o Brasil são equipadas com linhas de inspeção da Alfatest, mas o número deve aumentar, sobretudo quando o programa oficial for implementado.
“A linha de inspeção constitui-se atualmente em um diferencial para a oficina que a possui e para o consumidor que a utiliza”, afirma Rocha.
Estímulo à manutenção preventiva
Os equipamentos de diagnóstico de falhas no veículo representam só uma parte do novo modelo de oficina mecânica que irá nortear o segmento nos próximos anos.
Segundo o conceito desenvolvido pela Precision Tune, rede de serviços automotivos com dez lojas no Brasil, tão importante quanto reparar corretamente o automóvel é facilitar a vida do consumidor.
O conceito prevê, após o diagnóstico do veículo, a solicitação via computador das peças que devem ser substituídas e emissão, para o consumidor, do orçamento.
O passo seguinte é oferecer um carro-cortesia ao cliente durante o período em que o seu veículo estiver na oficina. Outra novidade presente na oficina hi-tech diz respeito à forma de pagamento: o consumidor poderá receber em sua casa, via e-mail, a fatura para pagar o serviço.
“O novo conceito de oficina economizará tempo do proprietário do veículo, uma vez que a execução do diagnóstico e conserto do automóvel será mais rápida”, afirma Adriano Boscolo, diretor da BGM Franchising, franqueadora da marca Precision Tune. “O objetivo é proporcionar comodidade ao cliente”, diz o executivo. A empresa, recentemente, estabeleceu uma parceria com a Delphi Automotive Systems para o desenvolvimento de novos serviços de reparação.
A oficina do futuro também irá estimular a prática da manutenção preventiva como forma de evitar a ocorrência de falhas e acidentes.
Clientes cujos veículos não apresentem problemas serão comunicados, via e-mail ou telefone celular, da necessidade de substituição do óleo do motor, filtros e pastilhas de freio, entre outros componentes, com base na média de distância percorrida nos meses anteriores – iniciativa válida também para fidelizar o consumidor.
Por fim, a aparência também não será deixada de lado: tal como um hospital, a oficina do futuro enfatiza a necessidade de limpeza, tanto no piso como nos uniformes dos mecânicos. É o fim da sujeira e da graxa.