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O mercado de veículos movidos ao GMV

O mercado reparador está vivendo dias de transformações cruciais, nem bem começamos a descobrir os mistérios da injeção eletrônica e surge o GMV/GNV – Gás Metano/Natural Veicular – despontando como a salvação para os bolsos combalidos dos nossos usuários deste Brasil varonil.

Com a liberação de uso indiscriminado em veículos particulares (leves) em 1996 ficou claro que o mercado reparador precisa ser repensado.

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Todo o advento da eletrônica, do uso do gás, rede CAN e outras tecnologias incorporadas aos modernos veículos aqui produzidos explicitaram as nossas deficiências técnicas.

A frota movida a gás natural já está na casa dos 220.000 veículos convertidos, dos quais 60% encontram-se na cidade do Rio de Janeiro, o estado que possui as maiores reservas e o maior número de postos de abastecimento (acabou de ser inaugurado o centésimo posto de abastecimento, pois temos a maior rede de gás canalizado do país).

96% dos táxis do Rio de Janeiro já desfrutam deste benefício, que agora também estendido aos usuários particulares, faz com que o crescimento desta frota alcance índices surpreendentes, superando as expectativas mais otimistas.

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Recentemente a FIRJAN – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro – encomendou um estudo sobre as condições em que os veículos vêm sendo convertidos.

O resultado é desanimador. Faltam normas mais rigorosas tanto para as peças e componentes eletrônicos, quanto para os kits de conversão, sem falar na qualidade dos profissionais envolvidos no processo (salvo raras exceções), formando uma tríplice vertente para o fracasso.

Temos vários órgãos governamentais ligados a quatro diferentes ministérios, estabelecendo algum tipo de lei e ordem para o uso do GNV sem que se tenha chegado a uma regulamentação consolidada.

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Na prática, temos uma legislação incompleta, contraditória e uma infinidade de aventureiros de plantão usufruindo de toda esta incompetência da legislação. Em resumo, não temos como garantir a segurança dos veículos que estão sendo convertidos.

A pergunta que não quer calar: Se na segunda maior capital do Brasil a coisa se encontra desta forma, como estarão as conversões nos pontos mais distantes?
Este mercado com falsos profetas e leis ineficazes criou a chamada conversão básica, ou quebra-galho, que somente instala o kit gás, sem os aparatos eletrônicos que proporcionam um funcionamento mais equilibrado e econômico do motor.

Faltam normas que garantam uma conversão de qualidade e com responsabilidade.

A chamada conversão básica põe em risco a vida das pessoas e acaba com o maior benefício do uso do gás natural: a redução dos índices de emissões de poluentes.

Outro ponto que não tem sido observado pelos convertedores, é com relação às condições mecânicas do motor, veículos que apresentam baixa eficiência mecânica estão sendo convertidos sem critério técnico, o que resulta em baixa eficiência e elevado consumo de combustível.

Vale ressaltar que os veículos que rodam com álcool etílico hidratado – AEHC – conseguem rendimento superior aos veículos movidos à gasolina, visto que seu aproveitamento térmico é superior a 20% (em virtude da maior taxa de compressão destes motores), o que contribui para diminuir a poluição emitida pelos veículos e melhora o rendimento/desempenho global da máquina térmica.

Os veículos já convertidos (e pessimamente convertidos e totalmente desregulados) estão poluindo, em média, quatro vezes mais do que com o uso da gasolina, um absurdo! O governo já é sabedor deste quadro sem lei e sem ar de qualidade (a pesquisa foi realizada pela Coppe/UFRJ) e até o presente momento não fez o seu dever de casa.

É preocupante o aumento de consumo de GNV, já se encontra na casa dos dois milhões de metros cúbicos e vem crescendo a uma taxa anual de 130%.

Será que teremos condições de sustentar a demanda? Não corremos o risco de terminar em descrédito? Teremos oficinas capazes de realizar os quesitos necessários à correta manutenção destes veículos? Creio que nenhum setor deseja reeditar os fracassos do pró-álcool…

Temos a obrigação de fornecer embasamento suficiente ao profissional, dar-lhe conhecimentos sobre a máquina térmica, sobre eletrônica embarcada, entendimentos sobre o processo de queima do gás e seus resíduos, que devem ser analisados sob a ótica de um analisador de gases por dispositivo infravermelho.

Porém quantos estabelecimentos possuem tal equipamento? Deveria ser uma condição obrigatória para o estabelecimento convertedor!. Somente desta forma teremos a certeza de que estaremos todos juntos nesta luta por uma qualidade de vida melhor nos grandes centros urbanos.

Enfim, temos de rever as grades curriculares dos cursos de formação profissional e tecnológica que fornecemos (?) aos nossos profissionais. Como podemos cobrar algo de quem nada tem a oferecer?

As oficinas vislumbram o mercado convertedor como a tábua de salvação do seu negócio combalido, facilitado pelas brechas das leis contraditórias que hoje vigoram e não regem nada, desde a formação do profissional até os equipamentos mínimos necessários para a realização da correta instalação/manutenção dos veículos convertidos.

Se o atual ritmo de conversões for mantido, os riscos se multiplicam em igual velocidade, estamos todos sentados em bombas ambulantes, prestes a explodir.

Cilindros de procedência chinesa ou indiana, baratinhos e sem garantia; kits de qualidade duvidosa e falta de conhecimento técnico por parte dos profissionais automotivos transformam o veículo convertido num verdadeiro coquetel molotov sobre rodas.

No início de Dezembro haverá um encontro de todos os representantes dos segmentos interessados na questão, para o devido encaminhamento ao governo federal, de uma proposta única de regulamentação.

Países como Argentina, Colômbia e Chile têm experiência positiva na normatização do uso do GNV como combustível veicular.

São caminhos preventivos que devemos seguir e ajustar as nossas necessidades. Esperamos que tenhamos um caminho definido ao terminar esta matéria.

O mercado carece de profissionais de nível técnico em automobilística. Não necessitamos de místicos ou adivinhos, pois o ofício não se aprende (mais) por osmose e sim através de estudo, bagagem tecnológica e ampla formação de conhecimentos gerais, leia-se, legislação ambiental, segurança veicular, respeito às normas e padrões ditados pela indústria e, conseqüentemente, salários dignos deste profissional.

As escolas devem investir no pós-secundário, pois já temos engenheiros demais realizando o trabalho do técnico, ambos sem a devida experiência em reparação automotiva. Títulos não executam tarefas.

Precisamos rever e repensar a atividade do reparador automotivo, estudar outros exemplos de sucesso e implantar um cronograma de estudos e capacitação para este mercado.

Temos alguns exemplos, no setor de reparação, a serem seguidos no campo da normatização, tais como Alemanha, Itália, França, Espanha, dentre outros, que poderão nos fornecer subsídios em como poderemos fazer um mercado reparador competente e respeitável.

As escolas técnicas e de formação profissional desvirtuaram o enfoque didático e transformaram os cursos em verdadeiros caça níqueis.

Enquanto não tivermos o reparador enquadrado na categoria de tecnólogo, cobrando-lhe o devido conhecimento para a realização das suas tarefas, e continuarmos com o “finge que faz, que eu finjo que cobro”, sem fornecer-lhe os devidos subsídios ao seu desenvolvimento, vamos viver e conviver com todo o tipo de situação esdrúxula, onde a cada dia a situação se agrava.

Não é apenas o mercado convertedor que precisa de normas e procedimentos claros; a cadeia de reparação automotiva, como um todo, precisa ser reciclada, desde as escolas de formação, técnicas e universidades, aos profissionais já estabelecidos, sem esquecer de preparar gente nova para um mercado em franca expansão de tecnologia.

Precisamos sim, que a Inspeção Técnica Veicular chegue já, e venha coibir o mau uso dos veículos automotores e sua combalida manutenção.

Este material foi escrito após visitar e prestar consultoria (para algumas empresas) para estabelecimentos credenciados em converter veículos ao uso do GNV e observar que, em sua grande maioria, não possuem conhecimento suficiente para exercer tais atividades.

As últimas matérias publicadas nas colunas OPINIÃO, JOELMIR BETING e GEORGE VIDOR, do Jornal O GLOBO, forneceram subsídios para os temas aqui apresentados.

Paulo Roberto dos S. Poydo é profissional certificado ASE, Inspetor de Segurança Veicular, Diretor Técnico do Depto. de Transportes da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Consultor dos sites automobilísticos: Mecânica On Line (http://www.mecanicaonline.com.br) e Best Cars Web Site (www.bestcarswebsite.com.br) , Consultor do Jornal Oficina Brasil (www.oficinabrasil.com.br), ex-Instrutor do SENAI – RJ, Consultor Técnico para Assuntos Automobilísticos da COOPTREIN – Cooperativa de Trabalho vinculada à área de Formação Profissional do Estado do Rio de Janeiro.

Equipe Mecânica Online – Paulo Poydo

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