Todos nós sabemos que hoje em dia é extremamente difícil ao reparador executar seu trabalho sem ferramentas e equipamentos adequados. Entretanto, ainda que o profissional esteja suprido com os instrumentos necessários a reparação de um veículo, jamais deve lhe faltar à informação sobre os procedimentos técnicos de correção do problema.
Sem informação tecnológica, simplesmente lhe é impossível consertar qualquer veículo, mormente no que diz respeito a Mecatrônica Automotiva.
Mas, por que as concessionárias brasileiras (ou os fabricantes?) têm tantas dificuldades em repassar informação tecnológica ao reparador independente?
Não há argumentos claros que possam justificar essa conduta. As concessionárias são representantes diretos de suas respectivas montadoras, logo funcionam como postos de assistência técnica e como tal, é evidente que gozam das prerrogativas de serem as primeiras beneficiadas na obtenção de informação tecnológica.
A questão fundamental que se coloca é a atitude talvez deliberada das concessionárias ou dos seus fabricantes em restringir o acesso do reparador independente à informação tecnológica.
Declarar que este profissional não é qualificado, que não possui o acervo de ferramentas e equipamentos minimamente necessários a realização do serviço é pura demagogia.
Esse discurso soa bem aos órgãos de defesa do consumidor, e mesmo assim eles preferem o tom conciliatório em eventuais conflitos entre o cliente e o prestador de serviços, que pode ser até uma concessionária.
Por mais incrível e intrigante que possa parecer, ao que tudo indica, isso só acontece no Brasil.
Digo isso por experiência vivida no corpo e na alma. Pois, neste exato momento, meus caros leitores, escrevo-lhes da cidade de Vancouver, no Canadá, a pouquíssimos quilômetros do Alaska, e afirmo-lhes que nunca em toda minha vida me foi tão fácil conseguir material bibliográfico automotivo.
A facilidade em obter informação tecnológica é flagrante em todos os sentidos. As lojas de peças e ferramentas automotivas abrigam prateleiras de manuais de reparação, não só de veículos canadenses, mas também dos modelos importados que rodam no país.
As livrarias têm sempre pelo menos uma estante destinada aos temas “automóveis” e “transportes rodoviários”.
A minha maior surpresa, no entanto, foi quando tive a oportunidade de visitar as Bibliotecas Públicas de Vancouver e de uma cidade vizinha, Burnaby. As duas somam mais de cinco mil volumes respeitantes à tecnologia automotiva.
Meu caros leitores devo dizer-lhes que me sinto francamente envergonhado de ter que lutar para obter informação aí no nosso Brasilzinho, muitas vezes as mais simples, por exemplo, a localização exata de uma peça ou componente num determinado veículo que nós mesmos fabricamos, em nossa Terra-Brasilis.
Já dizia o nosso saudoso Nelson Rodrigues que, do alto da sua extrema habilidade em entender as atitudes humanas e sintetizá-las em poucas palavras, nos deixou algumas frases geniais do tipo: “Toda unanimidade é burra”.
De fato, em se tratando de comportamento humano, preenchido de conteúdos emocionais os mais diversos, há que se respeitar à multiplicidade de opiniões, de gostos, de preferências.
Não há, porém, um só indivíduo minimamente alfabetizado e detentor das suas plenas faculdades mentais, que ouse em discordar que “1+1=2”. Aí, até mesmo o nosso querido Nelson haveria de fazer parte da unanimidade.
Acontece que “1+1=2” é informação tecnológica e, por conseqüência, totalmente desprovida de cargas emocionais. Daí a razão da sua unanimidade, da sua universalidade.
Bom! A menos que o gelo do Pólo Norte esteja matando os meus neurônios presumo que tudo que seja universal deva pertencer a todos sem distinção de raça, credo ou condição sócio-econômica.
Será que os departamentos técnicos das montadoras olham para o mercado independente como parte de um problema? Deveriam olhar com olhos de busca, de encontro, da solução.
Somente assim poderemos construir um mercado competente e confiável do ponto de vista da assistência técnica.
Algumas iniciativas, ainda que incipientes, estão espocando pelo mercado. Fornecedores, sistemistas, distribuidores e varejistas de autopeças juntam esforços para construir uma ponte sobre o fosso da ignorância, encurtando as distâncias e fazendo um mercado reparador mais digno.
Tudo foi conquistado por simpatia? Claro que não! Foi o sentimento de estar perdendo, sem conseguir reagir ao inimigo discreto e incisivo, chamado mercado ultracompetitivo, regente maior desta orquestra fora de ritmo e tom, escondida sob os auspícios da proteção e cartelização do mercado, naufragando sem direito a bote e colete salva-vidas. O caminho do prejuízo tocou no ponto mais sensível do corpo humano: o bolso!
Buscar aliados para competir de igual para igual foi à solução para reforçar marcas, divulgar a qualidade do seu produto e usar o marketing direto mais antigo que se tem conhecimento o “marketing boca-a-boca”. Este aliado está no mercado independente.
Paulo Roberto Poydo e Marco Calixto – Synergy Consultoria e Treinamento Automotivo