Voltar o hodômetro do carro é estelionato, mas há oficinas que facilmente concordam em executá-lo. Hodômetro do tipo mecânico: o mais fácil de ser adulterado
Modificar o hodômetro do carro, reduzindo a quilometragem indicada, é uma fraude aplicada com freqüência em São Paulo.
Facilmente se encontra quem a execute, numa operação de baixo custo que pode resultar em prejuízo de alguns milhares de reais para quem compra carro usado.
De sete oficinas mecânicas procuradas pelo Estado na zona norte de São Paulo, uma concordou em adulterar a numeração do hodômetro e todas as outras indicaram casas especializadas em velocímetros onde a fraude poderia ser realizada.
Numa dessas empresas, o atendente explicou que existem dois meios para se mexer na quilometragem.
A mais comum é desmontar o painel e retroceder manualmente os algarismos. Neste caso, o lacre de segurança do marcador de quilometragem não é rompido. Para esse “serviço”, a oficina cobra R$ 30,00.
Também costuma-se retroceder a numeração pela parte de trás do painel com o auxílio de um arame, caso em que não há desmontagem. No entanto, esse método é pouco utilizado por estragar os números, evidenciando a adulteração.
Em uma loja especializada em velocímetro, a fraude custava de R$ 20,00 a R$ 30,00, conforme a dificuldade para se desmontar o painel, e a demora seria de aproximadamente uma hora e meia.
O orçamento exato só não foi passado de imediato porque o funcionário realizava o mesmo “serviço” em outro veículo.
Há facilidade para se retroceder os números do hodômetro convencional, mas o serviço se torna mais complicado quando o componente é eletrônico.
Carlos Eduardo Moraes Barros, gerente de marketing do Auto Shopping Global, diz que mexer na eletrônica pode causar danos ao carro, embora, segundo ele, haja quem utilize até software especial para fazer essa “gambiarra”.
Barros diz que, para não comprar carro com hodômetro adulterado, os profissionais que trabalham em lojas de usados fazem uma inspeção detalhada no automóvel.
O chamado “tombo na quilometragem”, como é conhecido no meio automobilístico, é um crime de estelionato, com pena de um a cinco anos de reclusão.
O delegado Rafael Rabinovich, com 18 anos de experiência e atuando nos últimos anos no Detran, nunca soube de esse tipo de crime ter sido flagrado ou punido. Mas ele adverte: “Sempre há uma primeira vez”.
Juliana Sih