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Palavras caprichosas

Capricho não é privilégio dos homens. As palavras também se dão o direito de ter inconstâncias. É o caso dos substantivos. Alguns rejeitam o plural.

Não que não tenham dois números. Têm. Mas, em alguns empregos, se permitem certos luxos. Só se usam no singular.

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Vale a pena conhecê-los. Entendendo-os, você só tem a lucrar. Faz bonito diante do amorzinho. Evita mal-entendidos. Tira boa nota na escola. Não perde pontos no vestibular. E, sobretudo, transmite recados corretos.

Um dos temperamentais é o nome das partes do corpo (fica no singular quando se refere a mais de uma pessoa):

l Os senadores balançaram a cabeça.

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l Os presentes empinaram o nariz.

l PC e Suzana levaram um tiro no coração.

l O corpo das vítimas foi encaminhado ao IML.

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Reparou? O capricho procede. Se o plural tiver vez, você dará falsa impressão. Os senadores balançaram as cabeças? Empinaram os narizes? Levaram tiro nos corações? Cruz-credo! Só se cada um tivesse mais de uma cabeça, mais de um nariz, mais de um coração.

Xô!

Atenção, gente fina. Cuidado com a generalização. A regra não vale para as partes plurais (olhos, pernas, orelhas):

l Os atores levantaram os olhos (os dois) para o céu.

l Os presentes ergueram os braços (os dois) na missa celebrada pelo padre Marcelo.

l A mãe puxou-lhe as orelhas (as duas) do filho.

Se for só um olho, um braço e uma orelha, cessa tudo que a musa antiga canta. É vez do singular:

l Os atores levantaram o olho para o céu (cada um levantou um olho).

l Os presentes ergueram o braço (cada um ergueu um) na missa do padre Marcelo.

l A mãe puxou-lhe a orelha (uma só). Mas como doeu!

Um segredo da frases curta é…

Substituir o gerúndio por ponto. Vale o exemplo: Jade e Rânia se pegaram aos tapas dias antes do casamento tornando públicas as desavenças que as dividem.

Xô, gerúndio! Sem ele, a frase ganha em clareza e elegância: Jade e Rânia se pegaram aos tapas dias antes do casamento. Tornaram públicas as desavenças que as dividem.

Além das Gerais

Itamar não quis arriscar. Cauteloso, desistiu de se candidatar à Presidência da República. Preferiu concorrer à reeleição. “Mais vale um pássaro na mão que dois voando”, pensou ele. Tradução: não troco uma vantagem real, ainda que modesta, por outra que, parecendo muito maior, não é tão segura.

A precaução ultrapassa os limites das Gerais. Ou as fronteiras brasileiras. Os portugueses têm provérbio semelhante. “Antes um pardal na mão que uma perdiz a voar”, dizem eles.

Os italianos não ficam atrás: “Um pássaro na gaiola é melhor que dez à solta”, afirmam. Os ingleses não deixam por menos. “Um pássaro na mão vale dois no mato”, pregam os súditos da rainha.

Conclusão: cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

“Escrever suga todas as energias. No entanto, eu me sinto mais vivo e mais humano quando escrevo.” Paul Auster

Leitor pergunta

“Oferta das Casas Bahia: seguro grátis contra o desemprego”, dizia a frase. O professor pediu a classe gramatical da palavra grátis. Escrevi advérbio. Perdi preciosos pontinhos. Mas não me conformei. Acho que estou certo. Ou não?

Sueldo Araújo, Sobradinho

Grátis é palavra bivalente. Pode ser adjetivo ou advérbio. Como saber? É fácil. O adjetivo faz companhia ao substantivo: seguro grátis, estacionamento grátis, trabalho grátis, entrada grátis. O advérbio pertence a outra gangue. Acompanha o verbo: estacione grátis, trabalhe grátis, viaje grátis.

Dica: o advérbio pode ser substituído por gratuitamente. O adjetivo não.

Li na Folha de S. Paulo: “Viagem de Bush à América Latina visa eleitores latinos nos Estados Unidos”. Fiquei confuso. Aprendi na escola que o verbo visar tem duas regências. Uma direta. Outra indireta. A frase escolheu a forma correta?

Sebastiana Silva, Palmas

Visar, soltinho, sem preposição, quer dizer ‘pôr visto’: O professor visou o caderno do aluno. A PF visou o passaporte. Visar a joga em outro time. Significa ‘ter por objetivo’: Bush visa eleitores latinos. Maria visa ao sucesso profissional. Serra visa à Presidência da República.

Dad Squarisi – dad@cbdata.com.br
Dica de Português é uma coluna semanal do Diário de Pernambuco – Pernambuco.com
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