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Superstição do motorista sucumbe à violência

Da fitinha do Senhor do Bonfim até imagens de santos e guias usadas em umbanda, significativa parcela dos motoristas brasileiros nunca abriu mão da superstição como forma de garantir uma proteção extra aos perigos que rondam o volante do veículo.

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Entretanto, a violência urbana, atualmente numa escalada que já beira as raias do absurdo, mudou o perfil de quem dirige.

Dez anos atrás, enquanto uns procuravam a ajuda espiritual para afastar os riscos apenas de um acidente de trânsito, outros se mostravam mais supersticiosos: bastava cruzar com um gato preto na primeira esquina para retornar, deixar o automóvel na garagem e andar de ônibus naquele dia.

Atualmente, os motoristas, com raríssimas exceções, já não pensam mais somente na possibilidade de uma colisão.

Os amuletos ganharam um novo significado, com dimensão maior para os perigos não do volante, mas dos assaltos, com destaque especial para os seqüestros, que ocorrem normalmente ao parar no semáforo.

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A crendice popular extraída quase sempre do folclore brasileiro praticamente não existe mais, sucumbiu frente à violência urbana.

O comportamento do motorista mudou radicalmente por imposição da criminalidade, da falta de segurança pública atrelada à certeza da impunidade por parte do autor do crime.

A nostalgia proporcionada pelos passeios noturnos de carro deu lugar à psicose e o ato de dirigir em determinadas regiões e horários transformou-se em síndrome de medo.

No verdadeiro arsenal que os motoristas carregam em nome de maior proteção divina também é possível constatar a transformação do perfil de quem possui carro.

Na década passada, a figa e o pé de coelho autêntico eram amuletos comuns, usados como chaveiros ou simplesmente colocados no retrovisor interno.

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Podiam ser comprados em qualquer caixa de bar, padaria ou em bancas de camelôs. Atualmente, isso não acontece mais.

O número 13 e o gato preto da mesma forma estavam mais presentes na mente do motorista daquela época do que na do motorista contemporâneo.

Não importava se representavam sorte ou azar. O fato é que eram símbolos com raízes originárias do folclore. Atualmente são poucos aqueles que ainda guardam alguma opinião pelo número ou para o felino.

Mauro Marson, profissional de vendas, confessa ser um motorista supersticioso. Usa no seu carro uma imagem imantada de São Cristóvão, o protetor dos motoristas, e nunca sai com o veículo antes de fazer o sinal da cruz.

“São duas formas de pedir proteção, mas também tenho fé em amuletos”, diz. Marson acha que o número 13 não dá azar (embora seu número de sorte seja o 4), e no retrovisor do veículo tem um Yanoraku, amuleto japonês que traz sorte.

Para Ricardo Luiz Teixeira, proprietário de posto de gasolina, a sua proteção contra acidente e, principalmente, assalto e seqüestro, está na fita amarela acompanhada de uma folha de louro que traz junto aos documentos do veículo, ambas substituídas a cada Ano- Novo.

“Nunca fui vítima da violência urbana, fato que por si só considero sorte”, afirma.

Vale tudo para ganhar proteção – Agosto é sempre o mês em que as pessoas ficam mais suscetíveis às crendices populares.

Na verdade, as condições climáticas adversas favorecem os acidentes rodoviários e aéreos, mas muita gente credita tais ocorrências ao mês do desgosto, do cachorro louco e até do lobisomem, como estabeleceu o folclore.

Boa parte acredita que a sexta-feira, dia em que Jesus Cristo foi crucificado, seja o pior da semana.

Para outros, o azar atribuído ao 13 – e, por isso, muitos o evitam – deve-se ao número de pessoas que se sentaram à mesa da Santa Ceia. Seja como for, o fato é que vale tudo para o motorista conseguir uma proteção extra quando está ao volante do carro.

São pequenas coisas que, vindos da natureza ou da cabeça do motorista, transmitem confiança.

Por isso, a maioria defende a tese de que é melhor se garantir do que arriscar. Afinal de contas, não custa nada pensar positivamente e ter sempre em mente que o que é azar para uns pode ser sorte para outros!

Pensando desta forma, o comerciante Manuel Cardoso carrega crucifixo e imagem, não coloca o carro em movimento sem antes fazer o sinal da cruz e vê com bons olhos o número 13, porque até hoje o dia 13 só lhe trouxe sorte.

A advogada Lenira Cezário, por sua vez, não faz o sinal da cruz, mas tem no seu automóvel uma guia usada em umbanda, devidamente cruzada pelas entidades. Lenira, como Manuel, acha que o 13 dá sorte, porque todos os números têm energia própria.

Enquanto isso, o designer gráfico Gilberto Fernandes Neves Filho e a administradora de empresas Claudia Barboza Assunção não abrem mão do terço no retrovisor.

Mas Gilberto se esquece de que a fitinha do Senhor do Bonfim que mantém na placa do carro pode resultar em multa se o fiscal do trânsito interpretá-la como forma de obstruir a identificação.

Cada um a sua maneira, o que vale mesmo é o pensamento positivo. E um bom exemplo neste sentido foi dado pelo piloto brasileiro José Carlos Pace, que usava em seu capacete o desenho de uma flecha apontada para baixo.

Ao consultar uma mãe-de-santo, recebeu o seguinte veredicto: “Se não colocar a flecha para cima, nada feito”.

Supersticioso, mandou inverter a pintura não de uma, mas de duas flechas… Rapidamente tornou-se grande astro da Fórmula 1 e venceu o Grande Prêmio do Brasil, em 1975.

Quem já rezava agora reza mais – Quem pendura uma fitinha do Senhor do Bonfim, um terço ou um santinho no retrovisor do carro, o que pensa disso? Consegue realmente afastar-se de tantos azares a que estamos expostos a todo momento? É difícil dizer.

Um fato, porém, é certo: o time dos que preferem se garantir é bem maior do que o dos incrédulos.

Uns mais, outros menos, como é o caso da vendedora Sandra Mantovani Alves, que não se considera supersticiosa, não usa amuletos, fitas ou imagens e também não faz o sinal da cruz antes de sair com o carro.

“Acho que o número 13 dá sorte. Entretanto, utilizo a minha energia em qualquer coisa que faço”, afirma Sandra.

Com a assistente administrativa Conceição Farias a coisa é bem diferente, até porque ela tem motivo para ser assim. Considera-se supersticiosa, carrega uma fita branca e a imagem de um santo, mas sempre fez uma prece antes de sair com o automóvel.

“Se eu já rezava antes de ocorrer o assalto de que fui vítima, agora rezo um pouco mais. Acho que o número 13 não representa nem sorte, nem azar”, conta Conceição.

Para alguns pilotos, porém, o número 13 teve e ainda tem forte relação com sorte e azar. Geralmente, ele não é usado para identificação dos carros. E quando foi usado, não deu certo.

Chico Serra, por exemplo, dez anos atrás correu um campeonato da Stock-Cars com o número.

Diante da falta de sucesso, trocou-o e, na última etapa, sofreu um acidente que poderia ter sido gravíssimo.

“Ainda bem que tinha jogado o 13 fora”, disse o piloto, ao sair ileso da colisão.

Foi-se o tempo também em que muitos caminhoneiros pregavam uma ferradura de sete furos na traseira do veículo – uma ferradura normal geralmente tem apenas seis furos e, para trazer sorte, a crendice popular dizia que precisava ter sete.

Uma pessoa supersticiosa é aquela que, a qualquer momento, substitui uma entidade santificada por um objeto, acreditando que isso afastará o mal ou qualquer influência negativa sobre o que não se tem controle.

Originária do latim, a palavra superstição significa receio em vão ou culto falso. Portanto, ser supersticioso é bem diferente de ser religioso.

Percy Faro – Diário do Grande ABC

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