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O misterioso transponder

Marcos Pontes – O recente acidente envolvendo a colisão do Boeing 737, da Gol, com o jato executivo Legacy, da Embraer, trouxe muitos termos técnicos às páginas dos jornais.

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Palavras e siglas estranhas como transponder, radar e TCAS, se tornaram comuns no cotidiano de milhões de brasileiros que, enfaticamente, discutem situações e causas para o ocorrido.

Tudo perfeitamente normal na nossa complexa e internética sociedade, ávida por opiniões.

Só me chamou a atenção o fato de que, quando perguntei a um desses inflamados debatedores se ele sabia o que era exatamente o transponder do qual falava com tanta confiança, a resposta que obtive foi: “uma coisinha no avião que conversa com o controlador de vôo”.

Naquele momento, sendo eu um piloto com alguma experiência nas costas, me senti um tanto ofendido.

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Estaria ele me chamando de transponder? Afinal, eu o piloto, sou a coisinha dentro do avião que conversa com o controlador de vôo no solo. Seria muito desaforo! Ou estaria ele confundindo o transponder com o rádio?

Olhei novamente para ele com olhar técnico, mas amigável, de segunda chance.

“Você sabe como funciona essa coisinha de que você falou?” Ele parou de falar, pensou, coçou a cabeça e respondeu: “Sabe que não! Mas seja lá o que for, deve ser importante para fazer o avião voar”.

Naquele momento, indignado, decidi escrever este singelo texto sobre essas “estranhas coisinhas”.

Misteriosos equipamentos presentes nos aviões e que, vez ou outra, entram no nosso dia-a-dia sem muita explicação ou licença.

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Primeiramente é necessário imaginar a situação, o tráfego aéreo. Sentado na varanda de um apartamento, olhando para o trânsito do começo da noite em uma rua movimentada de São Paulo, podemos imaginar o que aconteceria se não existissem sinais, se os carros não pudessem parar e se fosse extremamente difícil para um veículo avistar e desviar a tempo do outro.

Resultado: caos, luz e calor! Este seria o cenário aéreo com o aumento do número de objetos mais pesados que o ar tentando, todos, ao mesmo tempo, chegar aos seus respectivos destinos.

Assim, o controle de tráfego aéreo é algo que foi criado para garantir que cada aeronave consiga percorrer a sua rota, do estacionamento no aeroporto de partida ao estacionamento da chegada, sem colidir ou mesmo se aproximar de outros aviões.

Tudo isso, idealmente, dentro das suas limitações de combustível e com tempo de espera ao menos aceitável, seja no solo ou no ar.

Para tanto, o controle de tráfego aéreo se desenvolveu ao longo de muitos anos e acidentes com a utilização de vários equipamentos instalados nos aviões e solo.

Nas cabines dos aviões, recheadas com todos os modernos sensores e instrumentos, os pilotos têm à disposição muitas informações, como a situação e parâmetros de todos os sistemas de bordo, incluindo saúde dos motores (é claro!), altitude, velocidade e posição geográfica atual.

Também possuem muitos equipamentos de interesse e uso direto para o controle de tráfego como rádios, sistema de alerta de tráfego e anticolisão.

Até o misterioso transponder! No solo, o sistema de controle de tráfego conta com radares, rádios, computadores e olhos atentos!

Normalmente, o problema do controle de tráfego está em saber qual é a posição atual de cada aeronave na área, sua velocidade, altitude, direção de vôo, intenções e destino.

De posse de todas essas informações, e conhecendo também a performance de cada aeronave e as características geográficas peculiares da localidade, no caso de aproximação ou partida, o sistema de controle de vôo pode calcular a melhor trajetória para cada avião, de forma que todos possam se movimentar com segurança.

Para auxiliar, existem procedimentos, rotas e parâmetros de vôo pré-determinados, conhecidos e treinados pelos pilotos e controladores.

“E o transponder? Pelo amor de Deus! Pare de enrolar e diga logo para que serve!”
Espera aí! Quem falou isso? O trecho de diálogo acabou na página anterior! Em todo caso, com ou sem fantasmas no texto, estamos chegando lá! A informação disponível ao piloto, completa ou parcial, a respeito de sua posição atual, velocidade e altitude vem, normalmente, de sistemas embarcados, como o sistema inercial, ou de sistemas que utilizam sinais do solo ou de satélites, como o VOR e o GPS.

O controlador, por sua vez, obtém dados de posição, velocidade e altitude, através do uso do radar.

Aliás, você sabia que a palavra radar é uma sigla também? O RADAR (Radio Detection and Ranging – Detecção é medida de distância por rádio) foi inventado em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial para detectar aviões inimigos.

Seu princípio básico de operação é a transmissão de pulsos eletromagnéticos (ondas de rádio) que refletem na superfície do avião e retornam para a sua antena. A direção da antena, o tempo para retorno e a variação da freqüência indicam a posição e velocidade do alvo, o avião.

O transponder, cujo nome também deriva da sigla Transmitter-Responder, ou transmissor-respondedor), é um pequeno aparelho instalado nos aviões, e que surgiu logo depois do radar, a partir das necessidades da guerra.

Sua primeira função era responder com um código de identificação secreto (“sou eu! não atire!”) sempre que o avião era varrido (interrogado) pelas ondas eletromagnéticas de um radar amigo.

Assim, as baterias antiaéreas não cuspiam chumbo naquela aeronave detectada, porém identificada como amiga, pelo radar de defesa.

Passadas as agruras da guerra, notou-se que o radar primário, utilizado pelo controle civil de tráfego aéreo, tinha várias falhas e não detectava bem as aeronaves pequenas, principalmente feitas com muitas partes não-metálicas.

Além disso, não tinha precisão de altitude ou a identificação da aeronave para informar ao controlador.

Assim, para resolver esses problemas, as aeronaves passaram a utilizar o transponder.

Ele recebe os pulsos eletromagnéticos, amplifica e transmite uma resposta, todas as vezes que o radar primário “ilumina” a aeronave com suas ondas (interroga).

Os sinais de reforço e resposta incluem o código da aeronave, a sua altitude e outras informações, dependendo do modo de operação selecionado. Esse tipo de operação de controle de tráfego usando o radar, e o transponder juntos, é chamado de radar secundário.

OK! Agora que todos sabem, finalmente o que é e para que serve o transponder, resta saber o que seriam todas essas outras coisas misteriosas que apareceram no meio da explicação, como sistema inercial, GPS, VOR, TCAS, etc… Êta! Falha nossa! Esses ficam para as próximas!

Marcos Pontes é engenheiro aeronáutico, mestre em Engenharia de Sistemas, graduado pela Naval Postgraduate School e o primeiro astronauta brasileiro, com experiência de 16 anos em segurança de vôo, trabalhando em campanhas de prevenção e investigação de acidentes aeronáuticos, incluindo o ônibus espacial Columbia.

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