Com os recentes esforços brasileiros para que o etanol transforme-se numa “commodity” internacional, acendeu-se o debate sobre os benefícios dos biocombustíveis versus combustíveis fósseis, à base de petróleo.
Os diversos argumentos, contra e a favor, deixam claro que a solução da questão está longe de ser fácil.
Comparativo entre combustíveis
Esta também é a conclusão de um estudo que acaba de ser publicado por dois cientistas noruegueses. Karl Hoyer e Erling Holden compararam os custos ambientais dos diversos combustíveis para automóveis, desde a gasolina e o óleo diesel, até aqueles que são apenas promessas tecnológicas, ainda longe da viabilização, como o hidrogênio.
O resultado é um “ranking” que pode parecer lógico à primeira vista: a gasolina e o diesel, como seria de se esperar, estão nas últimas colocações. Mas há algumas supreendentes zebras escondidas na classificação.
O comparativo entre os combustíveis alternativos para veículos foi feito levando-se em consideração os gastos energéticos e a emissão de poluentes nas etapas de produção, industrialização e consumo dos vários combustíveis.
Foram computados o uso de energia, a emissão de gases causadores do efeito estufa e a emissão de poluentes local e regionalmente.
Foram comparados gasolina, diesel e gás natural e fontes alternativas de combustível, como etanol, metanol, biocombustíveis e hidrogênio.
De baixo para cima na classificação, logo depois dos veículos a gasolina vêm os veículos bicombustível que consomem gasolina e gás natural.
“Qualquer combustível alternativo que nós consideramos é melhor do que os carros que nós usamos hoje,” dizem os pesquisadores.
O grande campeão em termos de ganhos ambientais é o hidrogênio, extraído do metanol e gerando energia por meio de células a combustível.
Esta é, entretanto, uma opção ainda longe da viabilização econômica e que, mesmo do ponto de vista estritamente técnico, ainda possui problemas a serem resolvidos.
Custos ambientais – Os pesquisadores montaram seu ranking atribuindo um peso de 1 a 16 para cada um dos ítens considerados: uso de energia, emissões de carbono e poluição com óxidos nitrogenados.
Os pesos foram atribuídos coletando-se os dados totais desde a extração ou produção do combustível até sua queima no motor do carro – do poço ao escapamento, como dizem os pesquisadores.
Quando os pesos de cada etapa são somados, o resultado é uma nota que equivale a toda a cadeia energética de cada combustível, em cada um dos três ítens.
Por exemplo, no caso do hidrogênio, foram considerados a extração do gás natural no poço, seu processamento para extração do hidrogênio liquefeito, o armazenamento do hidrogênio e sua utilização em uma célula a combustível equipando um automóvel.
A cadeia energética que possui a menor soma geral foi a melhor colocada no ranking, já que a soma de seus impactos nos ítens considerados foi a menor possível. As cadeias energéticas com a maior soma geral são consideradas aquelas potencialmente mais danosas ao meio-ambiente.
Melhor combustível – Não deixa de ser interessante o fato de que o hidrogênio, mesmo gerando apenas água como subproduto em sua utilização na célula a combustível, seja também uma “alternativa” fóssil – afinal, o gás natural é praticamente um “irmão-gêmeo” do petróleo, sendo também um recurso finito.
É por isso que os pesquisadores estão tão interessados em extrair hidrogênio de outras fontes – da água, mais especificamente (apenas para os resultados mais recentes, veja Super molécula é verdadeira usina de força, gerando hidrogênio com energia solar e Biocélula a combustível gera energia do hidrogênio em ar ambiente).
O mesmo gás natural, por outro lado, quando queimado diretamente no motor, só fica atrás da gasolina e do diesel, em termos de eficiência, gasto energético e poluição.
Outra decepção foi o biometanol – o metanol extraído de fontes renováveis. Mesmo quando utilizado em células a combustível, como o hidrogênio, ele fica nas últimas colocações, com grandes impactos ambientais.
“Deve ser enfatizado que nenhuma cadeia energética individualmente tem a melhor colocação em todas as categorias de impacto,” dizem os pesquisadores.
“Há sempre algum tipo de compromisso envolvido. Desta forma, não há vencedores óbvios; somente contrapartidas boas e ruins entre as diferentes categorias de impacto.”
Rota dos biocombustíveis – Não é à toa que não existe atualmente um consenso sobre o que seria a opção mais sustentável ou mais ambientalmente correta quando o assunto são os combustíveis – mesmo os biocombustíveis.
O que se tem visto são argumentos parciais, baseados em pesquisas parciais, que levam em conta apenas aspectos parciais. O resultado é que acabam se sobressaindo os argumentos políticos.
Como não existe um vencedor inequívoco, pode-se também considerar rotas a seguir na tentativa de se alcançar um sistema de transportes auto-sustentável.
Pode-se seguir a rota da eficiência – melhorando-se o rendimento energético de cada combustível, – a rota da substituição e a rota da redução do consumo.
Mesmo aí, contudo, há problemas. “Cada [rota] tem seus defensores,” dizem os cientistas, “mas, na realidade, há enormes zonas cinzas entre elas.”
Fonte: Inovação Tecnológica