domingo, 12 maio , 2024
28 C
Recife

Para estimular mercado brasileiro, carro popular pode voltar

O seminário “Megatendências 2023 — O Novo Brasil”, promovido pela AutoData Editora e encerrado no último dia 24 de março, causou surpresa com a abordagem sobre a possível volta do programa do carro popular para o mercado brasileiro. O objetivo é visto como solução para a redução de demanda registrada neste início de ano e que tem tirado o sono dos diretores das empresas que compõem a indústria automobilística brasileira.

- Publicidade -

O momento atual é complicado porque quem deseja ou precisa adquirir um veículo sobre com a queda de poder aquisitivo pela inflação e a dificuldade de obter crédito, com elevada taxa de juros.

Segundo os especialistas, parte da culpa dessa situação é da própria indústria que, focando na maior rentabilidade, preferiu dar ênfase nos modelos bem equipados, com componentes voltados à maior segurança e conforto dos usuários, mas, naturalmente mais caros, em detrimento ao outrora bem-sucedido carro popular.

Com a retração das vendas neste início de ano e diante do limitado poder aquisitivo de uma grande parcela de clientes, experientes executivos e profissionais do setor discutiram sobre a volta do carro popular para os clientes de menor poder aquisitivo que ficaram mais distantes do sonho de adquirir um veículo novo.

Entre as diversas ideias discutidas, chamaram-me a atenção as ponderações de Edna Maria Honorato, presidente do Conselho Nacional da Abac (Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios), sobre a volta da oferta de veículos a custos mais acessíveis que provocaria a adesão de clientes, sobretudo os de consórcios, uma das portas de entrada para um carro 0 KM.

- Publicidade -

A senhora Edna Maria é de opinião que, para o brasileiro, o carro está muito caro e que, além do preço de aquisição existem os custos naturais do combustível, seguro, licenciamento e manutenção. Como são muitos os consumidores carentes de mobilidade, o carro popular seria uma alternativa muito importante.

Como profissional da indústria automobilística, vivi as várias etapas do carro popular, especialmente, nos anos de 1990 quando o governo brasileiro transformou o motor 1.0 em plataforma para os carros de entrada do mercado. O responsável pelo carro popular foi o presidente Itamar Franco que, em fevereiro de 1993, quando a indústria esteve em dificuldade, determinou que o IPI (Imposto de Produtos Industrializados) para carros com motor até 1.000 cm3 de cilindrada seria reduzido simbolicamente para 0,1%.

A Fiat, mais rápida em decisões, foi a primeira a participar do programa e a lançar o modelo Uno com motor de um litro de capacidade cúbica. Essa decisão ajudou a marca italiana a ganhar mercado e, de quarta classificada no mercado brasileiro, subiu para a vice-liderança enquanto a Ford perdia participação. E Fiat até sofisticou o carro popular lançando a opção de ar-condicionado para maior conforto interno em dias de calor. Foi, simplesmente, uma troca de posições entre a Ford e a Fiat.

Com o carro popular, as vendas saltaram de 764 mil unidades em 1992 para 1.131.000 no ano seguinte, com crescimento contínuo e recorde de vendas em 1997, com 1.943.000 unidades comercializadas. As vendas de veículos caíram no final dos anos 1990.

Os populares chegaram a representar 71% dos veículos vendidos em todo Brasil no meio dos anos 1990.

- Publicidade -

Essa alternativa foi adotada pela indústria automobilística mais uma vez. Em outro momento de baixa demanda, nos anos 2000, as empresas novamente encontraram nos carros de preços mais atraentes a saída para manter as linhas em atividade e atrair os consumidores às concessionárias. Os carros com motorização 1.0, só que desta vez mais equipados, voltaram ao topo do ranking, ajudando a impulsionar as vendas de veículos zero KM.

Embora a busca por preços enxutos continue a existir e desempenhar um papel importante na decisão do consumidor, a presença de itens opcionais tem se mostrado como um importante diferencial. Isso fez surgir um novo segmento, o de carros populares premium.

De uma certa forma, esse movimento acaba sendo cíclico no Brasil. Quando a demanda cresce, as montadoras dão prioridade aos veículos mais sofisticados, equipados e caros. Em momentos de retração, a solução é recorrer aos modelos mais simples e que, pelo preço menor, estimulam os clientes a investir na sua aquisição.

Alguns especialistas apontam que o foco da indústria automobilística em carros populares se baseava principalmente no fechamento ou protecionismo do mercado automobilístico brasileiro. Com a progressiva entrada de novas empresas na competição pelo mercado nacional, o mercado tem se alterado bastante e o consumidor tem se mostrado mais exigente.

Na verdade, é o quebra-cabeças para os executivos e os melhores resultados serão para os mais criativos.

Muito Além de Rodas e Motores
Crédito das imagens: Arquivo Internet

Matérias relacionadas

Monte seu Fiat Pulse

Mais recentes

Menos combustível, mais Volvo!

Destaques Mecânica Online

Vem aí o Seminário de Segurança e Conectividade 2024!

Avaliação MecOn

WABCO - Principal fornecedor global de tecnologias para para veículos comerciais