Viva! Nem tudo está perdido. Há luz no finzinho do túnel. Prova-o a propaganda do Marea. Nela, dois acertos.
Um: a regência do verbo chegar.
O outro: o emprego do aonde.
Diz o texto: “Você chegou ao mundo. Você chegou à adolescência. Você chegou à juventude. Você chegou à universidade. Você chegou à maturidade. Você chegou aonde queria”.
Viu? Quem chega chega a algum lugar: FHC chegou à Suécia. Cheguei atrasada ao trabalho. Paulo chegou a Belô sob forte chuva. Jade chegou ao Marrocos. “Espero que a dengue não chegue ao Maranhão”, disse Roseana.
O aonde é uma respeitável palavra casada. Resulta do encontro de dois olhares. A preposição a dá uma espiadinha no pronome onde. Sente atração irresistível. Ele também. Aí, ambos juntam os trapinhos. E ficam colados para sempre. Mas a paixão não se acende sem mais nem menos. Tem requintes. Só ocorre com verbos de movimento que exigem a preposição a. É o caso de ir.
Quem vai vai a algum lugar: Aonde você vai? Vou ao Recife. Não sei aonde ele vai. Gostaria de saber aonde eles foram. Chegar joga no mesmo time.
É verbo de movimento que pede a preposição a: Aonde você chegou? Pode me dizer aonde Itamar chegará? Você chegou aonde queria. Moral da história: pode-se fazer uma bela propaganda sem bater na língua. Aleluia!
“Há palavras que choram e lágrimas que falam.”
Cowley
Palmas para a Coca-A propaganda da Coca não fica atrás. Romário, cercado de gatonas por todos os lados, pergunta malicioso: “Quem disse que eu não vou à Copa?” O vascaíno resistiu à tentação. Não caiu na fria de dizer “vou pra Copa”.
Ir a indica deslocamento breve. Ir e voltar em pouco tempo: Vou ao clube. FHC foi à Suécia. Vamos a Palmas passar o fim de semana? Fui ao supermercado. Ir para dá recado contrário.
É ir para não mais voltar. Ou para ficar um tempão: “Quando eu morrer”, escreveu Álvaro Moreyra, “com certeza vou pro céu”. Vou para Nova York fazer um curso de pós-graduação. Vá para o inferno.
Embalagem furada
Valha-nos, Deus! Começou o horário eleitoral. Os candidatos se embalam como presente de casamento. Mas morrem pela boca. Aconteceu com César Lacerda.
O deputado disse que fez e aconteceu. Entre os tantos projetos, orgulha-se deste: “Trabalhamos no fechamento dos bares após 22 horas”.
O homem se esqueceu de liçãozinha elementar. A indicação de horas é sempre acompanhada de artigo: Trabalhamos no fechamento dos bares após as 22 horas. Estudo das 8h às 18h.
Quem diria?
Com a dengue, o mosquito virou manchete. O Aedes aegypti responde pelo sucesso. A picada do danadinho faz vítimas a torto e a direito. Infecta milhares de desavisados. Mas o nome não faz jus aos estragos. Mosquito é diminutivo de mosca. Quer dizer mosca pequena. É isso. Tamanho não é documento.
Doença gilete
O dengue? A dengue? A doença que apavora o verão brasileiro é gilete. Corta dos dois lados. Pode ser masculina ou feminina: A (O) dengue pegou 34 mil pessoas no Rio. A (O) dengue atinge cerca de 4 mil municípios. Deus nos proteja!
Leitor pergunta
Tenho muitas curiosidades. Uma delas é o significado e o emprego dos prefixos. Com a dengue, dois viraram moda. Infra é um deles.
Dizem que o mosquitinho faz a festa por falta de infra-estrutura. Ultra é outro. Com a picada, o organismo fica ultra-sensível. Pode aprofundar o assunto? Luciano Marinho, Rio
Ultra é chique pra chuchu. Ora tem origem culta. Quer dizer além de, mais longe. É o caso de ultrapassar, ultramar, ultratumular. Ora tem raiz popular. Significa extremamente. Valem os exemplos de ultrademocrático, ultra-animado, ultra-sensível.
n Infra significa abaixo, em posição inferior: infra-estrutura, inframedíocre, infra-seção.
n Eles têm um ponto comum. Ambos exigem hífen quando seguidos de palavras iniciadas por vogal, h, r e s: ultra-ativo, ultra-humano, ultra-resistente, ultra-som; infra-estrutura, infra-humano, infra-regional, infra-som.
n Nos demais casos, é tudo coladinho: ultravioletra, ultraconservador, infravermelho, infraconstitucional.
Dica de Português é uma coluna semanal do Diário de Pernambuco – Pernambuco.com
Mensalmente você encontrará na atualização da seção Engenharia um novo texto