A idéia de desenvolver e produzir o Fox surgiu em fins de 1998 e foi manifestada pela Diretoria de Estratégia de Produtos da Volkswagen, instalada na Ala 17 da fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), área que concentra todos os segredos da Volkswagen do Brasil.
Pensou-se inicialmente num carro exclusivo para o mercado brasileiro, que atendesse essencialmente às necessidades e expectativas do cliente local.
Foi por esse motivo que o projeto ganhou o nome de Tupi – na verdade seria Tupiniquim, mas os alemães tinham dificuldade para pronunciar essa palavra – também conhecido tecnicamente pela sigla VW 249.
Para realizar o projeto, foi criado um time exclusivo de mais de 900 empregados da companhia, de áreas como Engenharia, Manufatura, Qualidade, Finanças e Marketing.
Os trabalhos passaram então a ser desenvolvidos em várias frentes, com objetivos agressivos.
Já estava definido que o novo carro seria um compacto estilo hatch, bastante acessível a uma camada significativa da população e com elevado nível de nacionalização (entre 85% e 90%).
O ferramental para a produção teria que ser todo desenvolvido no Brasil e, em sua maioria, teria de servir tanto para a fase de testes como de produção em série.
Os fornecedores também teriam de ser brasileiros, ou empresas que operam nacionalmente.
A exigência de grande conteúdo local não apenas estimulou fornecedores a nacionalizar peças como colaborou decisivamente para a máxima redução de custos.
Antes de chegar ao “clay” (modelo em escala 1×1 todo feito em argila), já na fase mais adiantada do projeto, o Fox foi integralmente desenvolvido com o emprego de ferramentas virtuais pela engenharia da Volkswagen do Brasil.
O programa “Digital Mock Up”, o mais avançado do setor automobilístico, permitiu que o Fox digitalizado fosse analisado minuciosamente em todos os seus pontos e peças, com precisão máxima.
Graças a esse processo, todas as peças e componentes do carro foram devidamente ajustados, eliminando-se interferências e definindo-se o ponto certo de localização de cada componente. Assim, não foi necessária a construção de centenas de protótipos físicos, como ocorria antigamente.
Também foi possível realizar pela via virtual todo o controle das modificações técnicas que se fizeram necessárias. Por fim, o Fox foi submetido a testes de aerodinâmica no túnel de vento.
Da definição final do “clay” ao início da produção, o Fox ficou pronto em apenas 20 meses. Maior período de tempo foi consumido em estudos e contatos com a matriz da Volkswagen na Alemanha para a aprovação do projeto genuinamente brasileiro.
“Desde o início do Projeto Tupi, a idéia foi conceber algo totalmente novo para a marca Volkswagen. Pensamos num carro que pudesse ser utilizado para o trabalho, no meio da semana, e para atividades da família no fim de semana, principalmente o lazer. Pensamos num carro jovem, que transmitisse a sensação de liberdade. Pensamos num carro resistente e ágil, adequado ao Brasil, ao nosso chão. O tema para desenvolvimento do Fox foi fazer um carro para a nossa família, a família brasileira, cujos filhos cresceram mais do que nós. O Fox é adequado para a nova família brasileira, cuja altura média é de 1,85m. Os engenheiros da Alemanha, aos quais o projeto foi submetido para aprovação, chegaram a estranhar o porta-trecos criado para abrigar garrafas de um litro e meio, mas entenderam perfeitamente nossa intenção depois dos testes de verão realizados no Brasil. Estamos orgulhosos porque, ao desenvolvermos um carro brasileiro, acabamos por gerar um modelo mundial, que pode rodar nos principais mercados do mundo”, diz Sérgio Roberto Ayres, gerente executivo de Estratégia do Produto da Volkswagen do Brasil.
O Fox tem, ao todo, 229 fornecedores, entre os quais se destacam empresas como a Magneti Marelli e a Bosch, responsáveis pela tecnologia Total Flex nos motores 1.0 e 1.6, respectivamente.
A lista inclui ainda, entre outras, Basf, Bridgestone Firestone, Dana Albarus, Delphi, Denso, Du Pont, Eaton, Goodyear, Hella-Arteb, Johnson Control, Mahle, Maxion, Pematec-Triangel, Petrobras, Pirelli Pneus, Sabó, Sachs, SKF, TRW Automotive, ThyssenKrupp e ZF.
Carro na medida, sem excessos
Para atender à necessidade de espaço interno indicada pelo cliente, a área de Design & Package da Volkswagen do Brasil usou um novo conceito de criação de automóvel para gerar o Fox — o Designed Around the Passengers.
Ao invés de seguir a rota tradicional, de desenhar primeiro o exterior e depois adaptar o interior a essa forma, os designers criaram o Fox de dentro para fora.
Esboçaram o espaço, definiram a dimensão, colocaram cinco ocupantes de diferentes alturas e pesos, ajustaram bancos, posições da direção e do câmbio, dispuseram o restante do painel, criaram porta-trecos para utilidades diversas e simularam situações com o carro em movimento para que se tivesse plena certeza de que o conforto dos ocupantes estaria sempre garantido.
Os designers da Volkswagen estudaram profundamente como seria o posicionamento do corpo humano dentro do novo carro, obedecendo a todas as normas de conforto proporcionadas pelos mais avançados estudos de ergonomia.
O mito do compacto pequeno por dentro foi desfeito quando os designers optaram por reposicionar o corpo dos ocupantes a partir de um cálculo complexo que elevou em 6 centímetros o chamado Ponto H (um ponto teórico representado pela articulação entre o fêmur e o tronco do ser humano).
A conquista do espaço se deu naturalmente, pois essa solução colocou os ocupantes do Fox em posição mais elevada no interior do carro, e os trouxe alguns centímetros mais para a frente em relação ao painel.
Com isso, os ocupantes ganham em conforto e comodidade, principalmente para viagens de longos percursos. E o motorista conta com grande melhora nas condições de dirigibilidade, já que o reposicionamento proporciona conforto e aumento do campo visual.
Outra preocupação dos criadores do Fox foi explorar todos os nichos possíveis que surgiram como consequência do ganho de espaço. Praticidade e funcionalidade são os conceitos predominantes. O carro é repleto de porta-trecos nos quais motorista e ocupantes podem acomodar vários tipos de objetos, de livros e CDs a pastas e até garrafas de água mineral com capacidade para um litro e meio.
Há locais para se colocar copos nas partes dianteira e traseira do interior, além de prateleiras na região do painel. Uma grande inovação do Fox é a localização do porta-luvas, que também deixa de ser convencional e quebra paradigma.
Por se tratar de compartimento habitualmente ocupado por documentos e manual do proprietário, ou ainda de outros objetos que não se pretende mostrar e que não precisam estar o tempo todo à mão, o porta-luvas foi instalado numa gaveta embaixo do assento do motorista.
Só depois de definida a dimensão e ocupação do espaço interno os designers partiram para o desenho do exterior do Fox. Nessa etapa, o carro foi concebido e esculpido em camadas de dentro para fora, até chegar à forma compatível que abrigasse tudo o que já existia no interior.
O Fox foi cercado de tantas atenções e necessidades permanentes de aperfeiçoamento técnico, estético e conceitual em seu desenvolvimento que encerra até mesmo um princípio filosófico — o de que toda a beleza que se vê no exterior é resultado da beleza e conteúdo que se encontra no interior.
Para atender o cliente guiado pela imagem, que se destaca pelo espírito jovial, os designers da Volkswagen criaram uma aparência visual moderna, com traseira curta e truncada e uma dianteira também curta, na qual o pára-brisa termina sobre o capô, na altura da metade da roda dianteira.
A forma da carroceria, na qual se destacam os traços fortes, sugere a forma de uma cápsula. As linhas marcantes indicam que o carro foi bastante esculpido durante o processo de criação.
O Fox tem capô alto, dois fortes vincos e a grade dianteira que lembra a do Phaeton, o VW mais caro e luxuoso do momento.
A localização do eixo no extremo da parte traseira também é indicativo de uma tendência super-moderna, reforçada pela colocação do vidro da tampa do porta-malas sobre a moldura.
Todos esses elementos evidenciam que se está diante de uma nova geração de design da Volkswagen. Os faróis são transparentes, trabalhados com texturas diferenciadas, fora do convencional, que os tornam “olhos” ainda mais brilhantes.
“O carro foi pensado em todos os sentidos e detalhes. É inteligente. Não tem tecnologia só por ter tecnologia. Tudo o que está dentro e fora tem razão de ser, porque é útil e importante. O design é bonito e chama a atenção. A praticidade está presente nas soluções internas. Tudo fica mais fácil para quem está dentro do carro, não importando se trafega tranquilamente numa estrada ou se enfrenta a tensão de um congestionamento nas grandes cidades. O Fox é um marco sem antecedentes no mercado brasileiro”, afirma Luiz Alberto Veiga, chefe de Design & Package da Volkswagen do Brasil.
Conhecendo a linha de montagem
O Fox para o mercado nacional é montado na fábrica da Volkswagen/Audi em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba (PR).
Trata-se de uma das plantas mais modernas do Grupo Volkswagen no mundo, onde trabalham atualmente 2.600 pessoas na produção dos modelos Golf, Audi A3 e Saveiro.
Inaugurada em janeiro de 1999, a unidade já recebeu, entre outros, os prêmios Qualidade Brasil, Total Quality e Expressão de Ecologia pela qualidade dos produtos e pelo respeito ao meio ambiente.
Dotada de tecnologias automotivas avançadas, como solda a laser e pintura à base de água (que elimina solventes na maior parte do processo e reduz drasticamente a poluição ambiental), a fábrica de São José dos Pinhais é a única da indústria automobilística nacional a produzir em larga escala para o exigente mercado norte-americano.
Em 2002, a unidade produziu 97 mil veículos, dos quais 43,7 mil seguiram para os EUA e Canadá.
Para a fabricação do Fox, a linha de montagem do Paraná recebeu 145 novos robôs – que se somaram aos 130 até então em atividade – e teve as áreas de Armação e Estamparia ampliadas.
A Armação cresceu 20%, ou 400 metros quadrados, e possui agora área total de 2 mil metros quadrados. A Estamparia praticamente dobrou de tamanho para estocar componentes do Fox, e agora tem área total de 4 mil metros quadrados.
Modernidade e inovações
Todo processo produtivo do Fox é gerenciado pelo sistema FIS, que identifica o veículo antes mesmo do início da manufatura. Informações necessárias para a construção do produto são armazenadas em bancos de dados, gerando uma espécie de certidão de nascimento.
O FIS analisa e armazena informações sobre itens como temperatura de pintura, controle dimensional, torque aplicado em cada parafuso, número do motor, número do câmbio e pontos de solda.
Todas essas informações, agrupadas, constituem o DNA do veículo, auxiliando em futuras revisões e manutenções.
A linha de soldagem do Fox tem uma estação que garante a geometria e o alinhamento dos conjuntos chassi, laterais e tetos. Esses elementos são posicionados com precisão para receber solda a laser num processo de produção bastante preciso. Cada carro recebe cerca de 7 metros lineares de solda a laser.
As aplicações são realizadas em pontos de difícil acesso, para que o Fox tenha maior rigidez torcional, maior vedação e melhor acabamento. A solda a laser dispensa acabamento, o que torna desnecessários frisos no teto do carro.
Em várias etapas da montagem, a carroceria do Fox passa por um controle dimensional a laser. A exigência de qualidade máxima do produto faz com que a carroceria seja 100% submetida a esse exame.
O mesmo processo de pintura à base de água empregado nos modelos Golf e Audi A3 é utilizado no Fox. A carroceria do novo compacto da Volkswagen é protegida por uma cera especial (Fluten), aquecida a 120°C, que atinge todos os pontos e cavidades e impede a corrosão.
Na montagem final há um novo conceito de módulos, que são constituídos na pré-montagem e depois colocados no veículo. Os principais objetivos desse processo são gerar maior produtividade, garantir maior qualidade ao veículo em produção e proporcionar a melhor ergonomia de trabalho.
Há três grandes módulos na montagem do Fox: Front End (estrutura do sub-chassi, suporte do pára-choques, radiador e feixo do capô), Fahrwerk (quadro auxiliar do sub-chassi, suspensão dianteira e traseira, escapamento, motor, câmbio e tanque de combustível) e Cockpit (sub-chassi, painel, caixa de ar, pedaleira, direção e Stirn Wand, a parede de fogo que faz a proteção do motor e do motorista).
Cem por cento das unidades produzidas passam pelo teste de vedação, no qual o veículo permanece por seis minutos em cabines sob fortes de jatos d´água.
Já o teste acústico, realizado por amostragem, atinge 30% dos carros produzidos, nos quais são diagnosticados e analisados ruídos de interferências, ressonâncias e motorização.