Com o aumento nas vendas de veículos flex fuel, o consumo de álcool deu um salto significativo. Programa Nacional de Biodiesel também fortalece a idéia de investir em novas alternativas aos derivados de petróleo
Com o preço do petróleo em patamares que ultrapassam 50 dólares o barril, os carros bicombustíveis, também conhecidos como flex fuel, tornam-se uma alternativa viável para aliviar o bolso dos motoristas.
A vantagem é que esse tipo de veículo roda com gasolina, álcool ou com a mistura em qualquer proporção dos dois combustíveis.
Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em 2003, os flex fuel corresponderam a 3% das vendas dos modelos zero-quilômetro.
No ano seguinte, houve um incremento de 22%.
No primeiro quadrimestre de 2005, a comercialização dos bicombustíveis chegou a 33%.
Hoje, seis montadoras oferecem esse tipo de veículo. Apenas em maio deste ano, dos 135,5 mil automóveis vendidos no atacado, 49,5% eram bicombustíveis, superando, pela primeira vez, a comercialização dos carros convencionais.
Em Brasília, os automóveis flex fuel já representam boa parte das vendas.
De todos os carros comercializados na cidade pela Volkswagen, por exemplo, 75% são bicombustíveis, segundo afirma Edson Maia, diretor de vendas do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos Autorizados do DF (Sincodiv-DF).
Essa arrancada promoveu, também, a volta da produção do álcool em grande escala, cujo preço é menor que o da gasolina.
Com a boa aceitação dos bicombustível, as vendas desse produto genuinamente brasileiro deram um salto de 34% entre 2003 e 2004.
“Antes o consumidor tinha medo de investir o seu dinheiro em um carro novo movido apenas a álcool, pois era difícil prever se o combustível iria realmente durar.
Hoje, com o sistema híbrido, esse medo desaparece, pois é possível abastecer com o que estiver disponível no posto”, afirma Luís Fernando Machado e Silva, presidente do Sincodiv/DF.
Com o alto custo do petróleo, a relevância da produção de combustíveis orgânicos volta a ser discutida.
O Brasil é o maior produtor. Além do combustível 100 % a base de álcool, adiciona 25% de álcool à gasolina.
No intuito de precaver-se contra eventuais reviravoltas do mercado, alguns países desenvolvidos começam a acompanhar com um interesse maior a experiência brasileira na produção de combustíveis derivados de matéria-prima orgânica.
Nos Estados Unidos, já existem quatro milhões de automóveis rodando com mistura de gasolina e álcool de milho.
Na Alemanha, 1.800 postos oferecem biodiesel com óleo de canola. Em algumas províncias da China, é obrigatória a adição de 10% de álcool à gasolina.
Parcerias entre o Brasil e esses países começam a se configurar. No dia 1º de julho, será realizado o 3º Workshop Brasil-Alemanha em Biodiesel, na cidade de Fortaleza-CE.
No evento, representantes dos dois países trocarão experiências relacionadas à produção do Biodiesel e sobre alternativas para que os dois países consigam alcançar as suas metas na distribuição de combustíveis orgânicos.
O grande empecilho para expandir o consumo de novas alternativas aos derivados de petróleo parece ser o custo de produção.
Para que o biocombustível chegue às bombas a preços competitivos, a maioria dos governos precisa subsidiar os produtos.
No Brasil, o álcool não é subsidiado desde 1999, o que leva a crer que, com o sucesso dos carros bicombustíveis e a fartura da cana-de-açúcar, o Brasil encontra-se numa posição confortável, em relação a outros país, para trocar a gasolina pelos combustíveis orgânicos.
O Programa Nacional de Biodiesel, lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2004, também sinaliza o interesse do governo atual em ampliar o uso dos biocombustíveis no país.
O novo combustível será produzido a partir de óleos vegetais, como dendê, palma, soja ou mamona. A meta é misturar 2% de biodiesel ao óleo diesel vendido no Brasil até 2008. A porcentagem deve ser ampliada para 5% até 2013.
Com a intenção de impulsionar a produção do novo combustível, o governo editou uma Medida Provisória, já aprovada no Senado, com algumas mudanças, e em tramitação na Câmara dos Deputados, que concede isenções fiscais ao biodiesel produzido com matéria-prima cultivada por pequenos agricultores nas regiões Norte e Nordeste.
A intenção é desenvolver a agricultura familiar e gerar riquezas no interior do país.
Mas alguns especialistas acreditam que a produção concentrada em pequenas propriedades irá atrapalhar a primeira meta do governo, pois para alcançá-la, até 2008, precisariam ser produzidos 800 milhões de litros ao ano. Sem incentivos aos grandes produtores, o programa não daria certo.
Edson Maia, diretor do Sincodiv/DF, acredita que o biodiesel irá abrir novas fronteiras agrícolas, causando um grande bem social. Maia acredita, ainda, que o combustível trará benefícios a indústria automobilística do país.
“Será uma alternativa a mais para o consumidor. Amplia o leque de oferta e mantém o mercado interno aquecido. Isso é muito positivo para o setor”, afirma.
Sistema flex do Peugeot 206 informa quantidade de álcool utilizada – Depois da Volks, GM, Fiat, Ford e Renault, agora é a Peugeot que entra na era do motor flex, o bicombustível que usa álcool e gasolina ao mesmo tempo.
A montadora lançou o modelo 206, fabricado em Porto Real, no Rio de Janeiro, com o sistema flex desenvolvido em conjunto com a Bosch.
Com a queda do preço na bomba, os donos de carros flex, que já são 40% das vendas internas, usam preferencialmente o álcool, o que reduz as emissões de poluentes da frota brasileira.
O motor 1.6 de 16V do Peugeot 206 é resultado de dois anos de pesquisa e desenvolvimento feitos com engenheiros da empresa em conjunto com os técnicos da Bosch.
Ele tem um sistema que mede a quantidade de álcool e gasolina utilizados durante toda a vida útil do carro, atendendo à uma solicitação do governo, que utilizará estes dados dentro de suas obrigações com o Protocolo de Kyoto, pois quanto mais álcool for utilizado, mais “créditos de carbono” terá o País para utilizar como compensação à emissão de CO2. Ele tem 113 cavalos de potência quando utiliza somente álcool.
Para oferecer o melhor desempenho possível tanto no uso do álcool quanto no uso de gasolina (e na mistura de ambos) foi mantida a taxa de compressão do motor.
Segundo a empresa o resultado do motor flex foi a melhoria nas acelerações e retomadas de velocidade, tornando o carro mais seguro nas ultrapassagens e mais rápido no trânsito urbano.