Aclamado como um dos esportivos mais representativos da história do automóvel, o Porsche 356 possui uma legião de fãs espalhados pelo mundo.
No Brasil, não é diferente. Um deles é Maurício Augusto Marx, um paulistano de 41 anos. Com cerca de 3 anos, já era um dos mais jovens admiradores da marca Porsche, quando passou a ser “proprietário” de uma miniatura de um modelo 911. O pai colecionava carros clássicos de competição desde meados da década de 1960 até 1999.
Ao completar 18 anos, Marx recebeu do pai a missão de escolher um dos carros de sua coleção de esportivos clássicos e montar por conta própria o seu projeto de reforma.
“Eu já paquerava o Porsche 356 desde criança, admirando sua traseira laranja em um canto do galpão. Eu já o tinha escolhido, mas ainda faltava a maioridade para poder apreciá-lo de verdade. Foi paixão à primeira vista. Em 1998, eu daria a primeira volta no carro. No ano seguinte, com o falecimento do meu pai, eu acabaria assumindo a responsabilidade de cuidar de toda a sua coleção de veículos, mas jamais perderia a grande paixão pelo Porsche 356”, destaca Marx.
O contexto e a relação entre pai e filho com a Porsche lembram a própria história de Ferdinand Porsche e seu filho Ferry.
“Consegui comprar jornais e coleções de revistas dos anos 50 e descobri que o meu 356 chegou a participar de pelo menos duas corridas no Brasil”. Uma delas foi em Interlagos, em 1957, e outra numa subida de montanha, na Estrada Velha de Santos, conquistando o terceiro lugar.
A paixão pelo 356 é tão grande que Marx o considera como um grande amigo.
“Um dia, quando ia para a minha oficina no interior de São Paulo, vi uma placa, ‘Ferro Velho do Véio Zuza’, e decidi naquele momento que esse seria também o nome carinhoso para o meu raro Porsche 356”.
Marx conta que, a exemplo de seu pai, sempre valorizou muito mais a originalidade dos veículos e por isso busca, sempre que possível, evitar reformas. Ele diz que nunca precisou fazer qualquer restauração no Véio Zuza.
“Eu gosto de manter as cicatrizes do carro, porque dessa forma consigo mostrar toda a sua história, especialmente se ele participou de competições”.
Em 1998, ele levou o Véio Zuza para participar do primeiro encontro no Porsche Clube, quando despertava a sua efervescência em Interlagos.
Desde então, ele se apresentaria também em outras competições, rallies, viagens e exposições.
A mais recente foi de avião, em março, mês de sua fabricação, para comemorar o aniversário de 70 anos do 356 em sua terra natal, na Alemanha.
Assim que o carro desembarcou em Munique, Marx já saiu ao volante do Véio Zuza, para percorrer uma distância total de 2.500 km, uma saga que passou por Paris, Bruxelas e Essen.
“Tivemos alguns imprevistos na viagem, mas o universo foi conspirando e alguns amigos também ajudaram com as soluções pelo caminho. Um deles foi um francês que indicou um excelente mecânico em Paris que trabalhava com modelos Porsche e que cedeu algumas peças de presente”, conta Marx. De Essen, seguiram para Gmünd, na Áustria, para visitar o prédio da Reutter, onde ficava a pequena garagem em que a empresa construiu manualmente os primeiros carros.
Ao chegarem finalmente ao Museu da Porsche, em Stuttgart, foram recebidos com uma atenção muito especial por seus representantes.
Havia até mesmo um espaço para exibir o modelo logo na entrada do museu durante toda a tarde. Não faltaram curiosos para fotografar o veículo em seu estado mais que original.
Tinha sobre o capô a bandeira brasileira, mostrando que o Porsche 356 também conquistou corações e proprietários muito longe da sua pátria.
Desde então, o Véio Zuza está, por um período de seis meses, nas instalações da MOTORWORLD, em Stuttgart, que guarda carros de colecionadores europeus.
Marx ainda planeja levar o Véio Zuza para “participar de mais corridas e colocar o máximo possível de quilometragens nele, talvez mais uns 10.000 km em eventos e viagens”.
É um planejamento, portanto, que não prevê ainda a aposentadoria a curto prazo do velho amigo.
Um verdadeiro clássico na história do automóvel – O primeiro carro com o nome Porsche ganhou as ruas em 8 de junho de 1948. Era o modelo 356 Roadster, produzido em Gmünd, na Áustria, alimentado por um motor de quatro cilindros refrigerado a ar de 1,1 litro da Volkswagen.
A potência do motor foi aumentada para 35 cv para o 356, batizado em homenagem ao número do projeto de design.
O tempo passou e o nome Porsche tornou-se sinônimo de carros esportivos e de competição, como sonhavam os fundadores da empresa, Ferdinand Porsche e seu filho Ferdinand (“Ferry”). O 356 foi produzido até o ano de 1965, com números totais ultrapassando a marca de 75.000 unidades.