Por Rogério Capucho – Após um período desafiador, a indústria automotiva dá sinais de um futuro promissor. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), grandes montadoras anunciaram um aporte histórico de R$ 125 bilhões no setor até 2033, algo que reforça as expectativas para os próximos anos.
Não há como falar sobre o setor automotivo sem trazer à tona a atual fase de disrupção vivida pelo segmento. O crescente uso da tecnologia nos carros elétricos, híbridos e autônomos, vem revolucionando totalmente as características deste segmento, despertando o interesse das montadoras em apostar no futuro positivo que se constrói.
No Brasil, o atual ciclo de investimentos se dá, principalmente, pelos sinais de recuperação da economia brasileira, com o controle da inflação e queda da taxa de juros, o que torna o nosso país um solo fértil para projetos a longo prazo. Além disso, a criação de programas governamentais como o Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que visa incentivar a produção de veículos sustentáveis e tecnológicos, também corroboram para a fase positiva vivida pelo setor.
Certamente, todos esses aspectos abrem margem para novas oportunidades em toda a cadeia produtiva, bem como reforça a necessidade do aumento de investimentos em inovação e tecnologia, visando alinhar o nosso país às tendências globais da indústria automotiva. Sendo assim, torna-se fundamental que o setor automobilístico aprimore, cada vez mais os seus processos e estabeleça um bom planejamento de gestão.
No entanto, mais do que ter um olhar apurado internamente, não podemos deixar de apontar os impactos da globalização e as influências do mercado externo em todo esse processo, assim como a importância de estabelecer relações. Esse é o caso da China, por exemplo, em que sua indústria automobilística registrou, em 2023, o recorde de produção e vendas de veículos. Só no Brasil, segundo um levantamento da BTG Pactual, as marcas chinesas já representam 5,7% das vendas de veículos novos no país.
A presença de montadoras chinesas no mercado nacional já vem mostrando os seus reflexos. Ainda segundo a BTG, do total de carros elétricos importados, os chineses corresponderam a 35% das unidades que chegaram aqui, impactando não apenas na queda de preços dos concorrentes deste modelo, mas também para veículos à combustão.
Na prática, esses fatores vêm acelerando a forte adesão de veículos elétricos e, consequentemente, aumenta a maior demanda em atender esse novo desafio. Quanto a isso, cabe o seguinte questionamento: como ajudar a indústria automotiva brasileira se preparar para essa demanda?
O primeiro passo, sem dúvidas, é investir em produtividade, infraestrutura, matriz energética e, principalmente, na logística para expandir os negócios. Tais ações devem ser executadas a partir do planejamento interno, que prevê a obrigatoriedade de aderir recursos de conectividade e automação, visando aumentar a competitividade, qualidade, bem como reduzir custos, exercer uma gestão simplificada a partir da análise de dados, tornando a mão de obra mais qualificada e estratégica.
Além das medidas internas, não podemos deixar de lado a importância das iniciativas públicas nesse processo. Ou seja, é essencial que o governo brasileiro estimule os incentivos fiscais, visto que o nosso país possui uma alta taxa tributária, estabelecendo regulamentações ambientais e padrões de qualidade com o intuito de impulsionar ainda mais o desempenho desse setor no país.
As perspectivas para a indústria automotiva brasileira são otimistas. As projeções apontam para um crescimento exponencial para os próximos anos. Todavia, o sucesso dessa nova fase dependerá tanto do apoio governamental quanto das montadoras, que precisam, sobretudo, investir em inovação, tecnologia e processos que viabilizem sua competitividade e desempenho nessa cadeia produtiva em constante adaptação. Afinal, para garantir a chegada na linha de frente, é importante ser ágil no ponto de partida.
Rogério Capucho é Co-CEO da SPS Group.