Entre os vários fenômenos intrigantes da Natureza que despertam nossa atenção desde criança, um é quase unânime: todo mundo alguma vez já se perguntou como é que a lagartixa consegue escalar superfícies tão lisas quanto um vidro e passear pelo teto do quarto sem cair.
Bom, tal questão também perseguia os cientistas há muito tempo. E a resposta, encontrada agora, é surpreendente. Esses répteis usam um tipo de atração eletromagnética que existe na escala molecular.
As pontas dos dedos de suas patinhas têm milhões de filamentos (que os pesquisadores chamam de setas), os quais se subdividem em milhares de estruturas que receberam o nome de espátulas.
Esses filamentos se valem dessas forças intermoleculares para grudar em qualquer superfície. É como se o bichinho tivesse nas pontas dos dedos ímãs tão poderosos que grudassem em qualquer tipo de material. Chegou-se a pensar que a lagartixa usasse algum tipo de sucção para se prender a uma superfície. Mas um teste em uma câmara de vácuo já havia mostrado que não.
“Nossa descoberta explica finalmente porque a lagartixa pode se manter pendurada com apenas uma pata”, declarou um dos participantes da pesquisa, Kellar Autumm, professor de Biologia do Louis & Clark College, nos EUA. Ele e Robert Full, da Universidade da Califórnia em Berkeley, publicaram sua descoberta na última edição da Nature, periódico internacional que dá o necessário aval científico ao trabalho.
Eles provaram que a força adesiva desses filamentos é tão grande que com um milhão deles, equivalentes a superfície de uma simples moeda, bastariam para levantar uma criança de 20 quilos.
“Essas forças intermoleculares entram em ação justamente porque esses filamentos (com espessura de um décimo do diâmetro de um cabelo) ficam muito próximos da superfície”, disse Full. “Nossos cálculos mostraram que só mesmo as forças chamadas van der Waals poderiam explicar essa capacidade adesiva”, afirmou.
Esse tipo de força, também conhecida ironicamente como “força fraca” e cujo nome é uma homenagem ao físico holandês van der Waals (1837-1923), faz com que moléculas e átomos exerçam uma atração entre si, que se torna mais forte à medida que eles se aproximam uns dos outros. Os milhões de espátulas dos filamentos das patinhas da lagartixa têm o poder de produzir esse tipo de força, que rapidamente interage com a das moléculas e átomos das superfícies por onde ela passa.
A descoberta foi tão surpreendente que já provocou outras pesquisas, para reproduzir artificialmente esse fenômeno. Uma das idéias é desenvolver um tipo de robô com patas artificiais de lagartixa, de tal forma que possa ser usado em missões de resgate. Ou então um tipo bem peculiar de cola, com a mesma propriedade eletromagnética dos filamentos do réptil.