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Estudo comprova o poder das montadoras

Para apurar a origem e tendências dos indícios de abuso de poder por parte das montadoras, a Fenabrave- Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores solicitou estudo ao professor doutor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Glauco Arbix, e João Paulo Cândia Veiga, doutor em Ciência Política pela USP, ambos especializados no setor automotivo e autores de livros referentes ao assunto.

A análise do setor, realizada pelos especialistas Glauco Arbix e João Paulo C. Veiga, foi entregue à Fenabrave no último dia 31 de maio e, sob o título “A distribuição de veículos sob fogo cruzado – Em busca de um novo equilíbrio de poder no setor automotivo”, comprovou que o excessivo poder exercido pelas montadoras de veículos é histórico e mundial, e vem, ao longo dos anos, se fortalecendo de acordo com a política governamental adotada em alguns países.

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Esse poder, segundo o relatório fornecido para a Fenabrave, gera desequilíbrio nas relações da cadeia automotiva, onde os distribuidores passaram a ser “a bola da vez”, sendo empurrados pelas montadoras para as bordas da cadeia de distribuição.

“Nosso objetivo com esses estudos foi o de analisar, de forma contextualizada, o histórico poder das montadoras, sua evolução e seus impactos sobre o setor da distribuição. Analisando esses aspectos e tendências, poderemos avaliar possíveis caminhos para que os concessionários possam restabelecer as condições de permanência no mercado de forma mais equilibrada junto às montadoras”, explica Hugo Maia, presidente da Fenabrave.

Segundo os estudos, a reconfiguração dos processos produtivos a partir da década de 80, os incentivos governamentais e as mega-fusões são alguns dos aspectos relevantes para que as montadoras se tornassem ainda mais poderosas.

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“As montadoras hoje tornaram-se mais poderosas do que sempre foram, abalando relações há muito estabelecidas e empurrando toda a cadeia, em especial a distribuição e a revenda, a repensar integralmente suas atividades”, diz um dos trechos do estudo.

Para Arbix e Veiga, pequenos movimentos das montadoras são capazes de abalar antigas relações ou desestabilizar empresas (mesmo as mais eficientes), simplesmente porque é cada vez mais difícil acompanhar seus passos e suportar suas pressões.

“Não é à toa que nenhuma sociedade democrática se construiu sem limitar o poder dos grandes conglomerados, viabilizando a existência do pequeno, do médio e mesmo do grande empreendimento. Quando falham, e aceitam conviver com esses desequilíbrios, quase sempre pagam um preço social extremamente alto, como é o caso do Brasil, seja no que se refere à redução do emprego, seja no aprendizado tecnológico, no fechamento de empresas e internacionalização do setor”.

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Na visão dos especialistas, mais fortemente após a implantação do Regime Automotivo, que ofereceu incentivos às montadoras entre 1995 e 1999, o setor foi atirado nos braços dos fabricantes, em detrimento da indústria de autopeças, de fornecedores de insumos, matérias-primas e bens intermediários, do sistema de distribuição e dos trabalhadores, personagens de destaque no período anterior de recuperação da indústria.

“Enquanto a proteção tarifária para as montadoras já instaladas no país seria mantida, o restante da cadeia tinha sua rentabilidade pressionada em função da profunda reestruturação e modernização por que passavam”, afirmaram Arbix e Veiga.

Como resultado, segundo os acadêmicos, o sistema de distribuição no Brasil foi sendo sacudido nos últimos anos por uma mudança estrutural e que resultou na diminuição da rentabilidade da concessionária a índices inferiores a outros segmentos da economia e da própria cadeia automotiva.

“Segundo dados da The Economist, em 1998, os revendedores brasileiros alcançaram um retorno sobre as vendas quase três vezes menor do que os revendedores britânicos e americanos, a metade dos supermercados brasileiros e cinco vezes menor do que o do setor de eletrodomésticos”, informaram os especialistas.

Mais do que isso, segundo o relatório enviado por Arbix e Veiga, as montadoras ainda não têm um plano certo em relação ao sistema de distribuição, porém, o que já ficou claro, é que a forma como extraíram poder das empresas de autopeças, drenaram a força dos sindicatos de trabalhadores e, mais recentemente do próprio Estado, tende a se repetir com a rede distribuidora.

“Ao invés de desestruturar as redes locais e regionais de produção, fornecimento e distribuição, as montadoras procuram criar redes de empresas sob seu controle, que funcionam paralelamente à cadeia tradicional. Com isso”, alerta o estudo, “as montadoras querem se aproximar tanto das fontes de insumos e suprimentos quanto do consumidor, comportando-se como se fossem intermediários virtuais”.

O objetivo das fábricas, conforme apuração do estudo, é o de minimizar a importância do concessionário como principal elo entre o produto e o cliente e, para isso, “têm destacado, nas entrelinhas dos pronunciamentos e no sub-texto dos programas anunciados, que a revenda é tida como uma usina de desperdícios e uma fonte permanente de ineficiências. Se assim fosse, como explicar sua sobrevivência ao longo do tempo?”, questionam os autores da análise.

Na conclusão dos especialistas, as palavras cooperação e inovação devem reger os passos futuros dos concessionários.

“O desafio é transformar esses conflitos em uma plataforma para a superação dos obstáculos enfrentados pelo setor, a partir do reconhecimento da necessidade de um novo pacto de cooperação entre seus integrantes”.

Segundo Arbix e Veiga, as tecnologias de informação abrem portas para que a concessionária monomarca se transforme em um sistema multiserviço e multinegócio e, no limite, multimarca.

Para isso, o estudo sugere aos concessionários repensar o negócio, e contemplar a possibilidade da formação de grandes grupos o que, na visão dos especialistas, possibilitará não só ganhos de escala como aumentará o poder de todo o setor nas negociações de novos acordos com as montadoras.

“As chances de que relações mais cooperativas possam renascer dependem muito de uma alteração significativa nas estratégias empresariais, no comportamento das empresas e dos empresários do setor. Sem cooperação, as perdas eventuais poderão ser muito maiores do que o necessário, como já aconteceu dramaticamente no setor de autopeças”, alertaram Arbix e Veiga na conclusão do estudo.

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