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O design e as preferências culturais

Muitas vezes, o que ‘pega’ na Europa pode ‘não pegar’ nos Estados Unidos e vice-versa.

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O grande problema para os designers é desenhar alguma coisa que ‘pegue’ dos dois lados do oceano – agora imagine o que acontece quando se fala de fazer alguma coisa também para outros mercados, como os asiáticos, sul-americanos e tantos outros.

E isso quando se está falando só dos três grandes mercados mundiais, Europa, Estados Unidos e Japão, que definem com seus talões de cheque e cartões de crédito o que vende e o que não vende, frente a uma escolha cada vez maior de marcas e modelos.

Brincando um pouco com possibilidades futuras, o que acontecerá também quando os mercados sul-americanos estiverem maduros, mais os chineses, indianos, outros orientais e até mesmo africanos? Hoje, esses mercados aceitam ansiosamente qualquer coisa nova – mas daqui a duas, três décadas, farão o mesmo?

O problema dos designers é entender as nuances sutis de cada cultura, para que assim possam criar veículos que ‘toquem’ o consumidor comum de onde ele venha.

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J Mays, vice-presidente de Design e principal diretor de criação da Ford mundial, diz que os designers de sua companhia “Têm de reforçar visualmente os valores de coração da marca Ford, como honestidade e originalidade, mas criar produtos desejáveis e finalmente obter sucesso num mercado específico, e para isso você tem de entrar em contato com as emoções e os valores que definem as culturas e ajudam a criar as identidades nacionais.”

“Alguns itens, como cores e materiais internos, são muito fáceis de modificar – mas eles não são suficientes quando se está lidando com marcas de grande volume como a Ford. Você tem de dobrar a chapa metálica em formas e jeitos que garantam que seus produtos ressoem com os clientes que você está tentando atingir.”

Para o cliente americano, o bom design é definido visualmente por formas e linhas que refletem um espírito de resistência.

“As dianteiras de nossos veículos têm de ser visualmente mais nítidas, os trucks têm de ser maiores e mais musculares. O refinamento, embora importante, não pode levar os veículos a serem tão aerodinâmicos, tão minimalistas, que eles se misturem e desapareçam na paisagem.”

Peter Horbury, diretor de design para as Américas, e que se reporta a Mays, faz uma analogia com o futebol: nos Estados Unidos e Canadá, os futebolistas são tipicamente atletas enormes, que usam seus músculos para avançar pelo campo.

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Já na Europa, o futebol é o que nos Estados Unidos é chamado de soccer, e os jogadores são mais leves e ágeis. “Ambos são esportistas, mas o jogador europeu é ligeiro, ágil.

Se um dos defensores do Detroit Lions aparecesse num campo de soccer, ele estaria totalmente fora de seu meio.”

É por essas diferenças que o Ford Fusion e o novo Edge aparecem tanto nas estradas e ruas americanas, diz Peter.

“A grade de três barras parece um sorriso simpático, com grandes dentes. Você a vê a um quilômetro de distância. No fim, temos de garantir que mais expressões abertas de individualismo estejam nas chapas metálicas dos carros, caminhões, SUVs e crossovers americanos.”

Mas, de acordo com Mays, esse espírito de dureza e resistência dos carros americanos não ‘apela’ aos compradores de outras partes do mundo.

“Na parte sul da Europa, você descobre que linhas e formas dinâmicas e alongadas são mais desejáveis para os clientes, porque as culturas em países como Itália, Espanha e França tendem a valorizar atitudes, emoções e até mesmo produtos mais expressivos.”

Martin Smith, diretor de design para a Ford Europa, cunhou o termo ‘desenho cinético’ para descrever o novo DNA da Ford da Europa.

“‘Cinético’ expressa tudo que queremos dizer sobre o design – energia, movimentação, a noção de movimento visual com o veículo parado,” diz Martin, apontando para os recém-lançados S-MAX e Galaxy, como os primeiros veículos da empresa a exibir o DNA de design cinético.

Antes de retornar à América do Norte no mês passado, Moray Callum, diretor de design, automóveis, gerenciou o design da Mazda – e ele diz que a maneira com que as pessoas usam seus carros em culturas diferentes também influencia o desenho dos automóveis.

“Os consumidores japoneses não vão para o trabalho em seus carros. Eles normalmente usam trens ou ônibus,” diz Moray, que tem em seu currículo o crédito pelo design ‘zum zum’ de toda a linha Mazda.

“O carro é algo que eles usam nos fins de semana para passear ou ir aos shoppings, um veículo de lazer e não de trabalho.”

Essa diferença tem um impacto tanto no design exterior como interior. Por exemplo, quase todo carro no Japão, dos sub-sub-compactos aos maiores, está equipado com televisão.

“As pessoas no Japão gastam muito tempo sentadas num carro parado. Elas na realidade usam seu carro como se fosse uma sala extra de sua casa. As pessoas nunca fariam isso na América.”

No fim, numa economia globalizada, as disparidades culturais que afetam o design podem não se manter tão pronunciadas, diz Moray, apontando para o porta-copos, uma invenção americana que os europeus inicialmente não aceitaram.

“É engraçado. Os porta-copos agora são aceitos no mundo todo.” Talvez sua popularização venha da proliferação nas últimas décadas dos enguiços de trânsito na Europa, que pode ter sido a razão dessa mudança de valores.

O que interessa, então, é acertar na maioria das culturas. O objetivo, claro, é vender mais.

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