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Dados gerados por automóveis serão mais lucrativos que os próprios automóveis

Na edição passada da nossa coluna abordamos a revolução da indústria 4.0, denominada de quarta revolução industrial, e suas mudanças em todo o processo de produção e ganho na eficiência – novos modelos, redução nos custos, mais rapidez nas mudanças e  total rastreamento das atividades.

Todos os dados do processo de produção ficam armazenados, são comparados em tempo real e qualquer diferença logo é percebida na análise de dados.

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Numa visita a nova linha de produção de caminhões da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, vimos um computador que a todo instante processava os dados do produção. A tela mudava muito rapidamente, realizando comparações e garantindo a manutenção da qualidade nos produtos fabricados.

É a tecnologia digital e hiperconectividade assegurando altos padrões de qualidade e produtividade, além de ampla flexibilidade para atendimento às demandas dos clientes.

A quarta Revolução Industrial coloca, portanto, o colaborador da fábrica no comando das tecnologias, ajudando a gerar dados que, em um futuro muito breve, serão usados para trazer mais inteligência às operações.

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Uma frase muito conhecida é a de que quem tem informação, tem poder. É isso que acontece com o processo da Indústria 4.0, mas que também começa a ser evidenciada em nossas rodovias.

Não por acaso, muitos dos carros fabricados atualmente contam com mais de 100 sensores embarcados, capazes de monitorar permanentemente itens como velocidade, temperatura do motor e funcionamento dos freios, coletando para isso uma série de outras informações.

Estes sensores fazem com que estes automóveis produzam cerca de 25 GB de dados por hora. Em se tratando de carros autônomos, a previsão é de que este volume salte para 3.600 GB por hora.

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O diretor da divisão de TI da T-Systems, A T-Systems Brasil, provedora alemã com amplo portfólio de soluções digitais e serviços de TI, François Fleutiaux, explica que os dados não são gerados apenas com o veículo em movimento.

“Eles são produzidos em toda a cadeia de valor, do design e desenvolvimento, produção, vendas e uso, até as revisões e manutenção”, diz, lembrando haver um consenso entre especialistas de que empresas com capacidade de coletar, integrar e analisar estes dados com inteligência estarão entre os vencedores da revolução digital.

“Estas empresas serão capazes de melhorar a eficiência de uma série de processos e de abrir novas possibilidades de vendas com serviços inovadores“, prevê, citando três exemplos de serviços neste novo mercado:

Manutenção preditiva em produção automotiva – de acordo com a IFR (International Federation of Robotics), 2,6 milhões de robôs estarão em uso até 2019, muitos deles já em operação. Um carro médio tem cerca de 6 mil pontos de solda.

Se um único robô de soldagem tem uma parada inesperada, toda a linha é paralisada, causando prejuízos de cinco a seis dígitos para o fabricante.

Há dados de medição e consumo de energia que permitem prever uma parada deste tipo com seis dias de antecedência, permitindo que a manutenção trabalhe de forma programada.

Seguro automotivo pago por uso do carro – poucas seguradoras utilizam tecnologia telemática para monitorar o comportamento dos motoristas, premiando hábitos de direção segura com taxas mais baixas.

Uma caixa telemática, ou mesmo o smartphone, pode ser utilizado para gravar estes dados e envia-los para a companhia seguradora. Se o automóvel tiver um SIM card instalado, estes dados podem ser transferidos sem problemas.

Seguradoras e fabricantes de automóveis já estão trabalhando para estabelecer um framework legal que permita o fornecimento de dados relevantes para as seguradoras.

Semáforos que reconhecem veículos de emergência – muitos semáforos já estão equipados com câmeras de monitoramento, permitindo sua otimização de acordo com o fluxo.

A cidade de Milton Keynes, na Inglaterra, está equipando seus cerca de 2,5 mil semáforos com câmeras inteligentes capazes de reconhecer ambulâncias e mudar as fases para permitir sua passagem.

Não há dúvidas que os carros estão se tornando data centers sobre rodas.

Muitas das tecnologias que chegam nos automóveis possuem origem em outros meios de transporte, como foi o caso dos freios ABS. Observamos essa mesma tendência vinda dos caminhões.

A Scania recentemente apresentou o Programa de Manutenção com Planos Flexíveis, solução inédita para o setor, que promove um novo jeito de oferecer serviços. O plano é uma modalidade em que, por meio da conectividade, o veículo informa o momento ideal de parar para a manutenção.

Nesse novo sistema, o pagamento passa a ser mais dinâmico, personalizado e por tempo indeterminado; e feito de acordo com a quilometragem rodada de cada veículo e tarifação por consumo de combustível (ou seja, quanto mais economizar diesel menos o cliente pagará).

Com os Planos Flexíveis, a Scania consegue unir de forma perfeita sustentabilidade e rentabilidade, e ainda reduzir em até 16% o custo de manutenção de cada unidade.

Fleutiaux defende que o mercado precisa, para potencializar os dados produzidos por veículos, desenvolver mais conectividade, capacidade de storage e softwares inteligentes. Um em cada cinco veículos serão equipados com alguma forma de conexão sem fio até 2020, que devem totalizar cerca de 250 milhões de veículos globalmente.

Este desenvolvimento está sendo estimulado pela obrigatoriedade da instalação do sistema de chamadas de emergência eCall em todos os carros da União Europeia até o final de março deste ano, equipando cada um deles com um SIM card.

“Fabricantes, fornecedores e startups estão considerando as oportunidades e enfrentando a competição de empresas de outros segmentos, como a Apple e o Google, que já descobriram o potencial deste mercado e têm conhecimento e musculatura financeira para agita-lo. A luta pelos dados automotivos está apenas começando”, conclui.

Não poderíamos ter um assunto tão atual, num momento em que descobrir como se comporta e pensa um eleitor, por exemplo, foi decisivo numa eleição nos Estados Unidos. Imaginou como descobrir o comportamento do veículo, seus sensores e atuadores, a forma de condução e necessidades do motorista (cliente) vão permitir um salto na indústria automotiva e uma geração totalmente nova de veículos?

Como vimos no passeio na nova linha de produção da Mercedes-Benz, estamos vivendo o futuro.

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