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O carro elétrico será mais uma vez um fracasso?

*Eder Polizei – É atribuída ao norte-americano Thomas Davenport, por volta de 1830, a invenção do primeiro veículo elétrico no mundo. Foi a chamada a primeira onda de carros elétricos. Ela foi seguida de outras duas ondas, na década de 70 e início dos anos 2000, e em todos os casos, o carro elétrico não conseguiu se consolidar como uma alternativa funcional, confiável e principalmente econômica.

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A primeira onda no século XIX foi engolida pelo desenvolvimento de motores a combustão interna, muito mais eficientes energeticamente numa época em que o petróleo era farto.

A segunda onda, entre 1970 e 1990, parecia promissora justamente em função da crise do petróleo e as crescentes preocupações com a poluição atmosférica. No entanto, uma precária infraestrutura de carregamento das baterias e limitações tecnológicas, mais uma vez, fizeram com que os carros elétricos não fossem uma alternativa viável.

A terceira onda surge a partir de preocupações com a emissão de gases de efeito estufa e novas demandas por transportes alternativos. É neste período, em 2003, que surge a Tesla como uma alternativa significantemente relevante. A companhia produz modelos mundialmente desejados, com soluções e ofertas muito superiores aos carros a combustão produzidos no momento e se consolida muito rapidamente como referência no setor.

A partir de 2010 entramos na quarta onda, caracterizada pelo aumento significativo de marcas, modelos e opções atrelados a incentivos fiscais e restrições de emissão de poluentes em vários mercados. Temos finalmente uma conjunção favorável de fatores para o sucesso do carro elétrico. Porém, já testemunhamos nas ondas anteriores condições favoráveis e insucessos. Por que agora seria diferente?

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O que muda agora é que estamos vivendo um período sem precedentes em avanços tecnológicos, negócios, oferta e toda a sorte de novidades graças a quarta revolução industrial ou mercado 4.0, termo cunhado pelo fundador e presidente do fórum econômico mundial, Klaus Schwab a partir da convergência de tecnologias físicas, digitais, biológicas entre outras, com especial transformação dos sistemas econômicos, sociais e culturais.

Vivemos um momento em que novos negócios são apresentados como ofertas disruptivas em mercados de crescimento exponencial. Explico melhor: especificamente no mercado automotivo, as mudanças que ocorrerão nos próximos 10 anos serão mais significativas do que as que ocorreram nos últimos 100 anos.

O principal “motor” que irá impulsionar o sucesso do carro elétrico nesta quarta revolução industrial é a lei de Moore. Gordon Moore, cofundador da Intel, cunhou uma frase na década de 60 a partir de suas observações. Ele previu que a capacidade de processamento dos chips de computadores dobraria a cada 2 anos ao mesmo tempo em que o seu custo de fabricação diminuiria.

É exatamente o que vem acontecendo com as baterias veiculares. Seus preços vêm caindo a uma velocidade similar à da lei de Moore, ao mesmo tempo em que elas chegam ao mercado com maior durabilidade: autonomia média de um carro elétrico em 2010 era de aproximadamente 100 a 150 quilômetros. Hoje há modelos que superam 500 quilômetros com uma única carga. Estima-se que o custo de fabricação das baterias esteja diminuindo em média 20% a cada duplicação da produção.

Em outras palavras, em curto prazo teremos carros elétricos a preços competitivos quando comparados a carros de combustão interna, haja vista que um dos principais custos do carro elétrico é justamente a bateria. Segundo uma pesquisa realizada em 2017 pela KPMG acerca do mercado automotivo, para 78% dos executivos do setor as novas baterias serão o verdadeiro “breakthrough” do carro elétrico.

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Outro fenômeno comum a todos os negócios de sucesso que estão operando neste exato momento sob as regras da quarta revolução industrial é a definição de ofertas a partir de plataformas. Explico melhor: o Uber, como exemplo, depende de toda uma plataforma de operação para se viabilizar de forma plena. A plataforma visa integrar produtos, lojas físicas, ambiente digital, comunidade, motoristas e o próprio aplicativo entre outras.

Não será diferente com o carro elétrico. A plataforma que viabilizará esse novo mercado deverá incluir uma nova cadeia de fornecedores, uma estrutura completa de carregadores – seja nas residências seja nos postos de abastecimento -, uma clara política de uso e descarte das baterias, novos conceitos e políticas de pós-venda e manutenção preditiva, entre outros.

Mas a pergunta ainda não foi respondida. Será que finalmente o carro elétrico será um sucesso? A resposta não é nem de longe complexa ou de difícil solução. Sim, será um sucesso. Mas não imediatamente, a julgar pela complexidade da implementação da nova plataforma de negócio.

Todos os fatores e condições destacados anteriormente apontam para a adoção sem volta do carro elétrico, isso até o momento em que não tivermos outra solução energeticamente mais eficiente e que possa ser implementada em um modelo de plataforma mais simplificada. Claro que isso não acontecerá da noite para o dia.

*Eder Polizei é doutor e mestre em Administração pela FEA/USP e diretor da agência Seven7th para o setor automotivo

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