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Com corridas de carros autônomos, esporte a motor continua relevante para a indústria

Uma guinada revolucionária na relação entre o esporte a motor e a indústria da mobilidade foi dada em 2014, com a criação da Fórmula E, categoria de carros elétricos que trouxe para o centro do mundo esportivo o principal foco de preocupação dos fabricantes de veículos: a matriz energética.

Para os próximos anos espera-se uma nova guinada revolucionária: uma empresa baseada na Inglaterra e com o brasileiro Lucas Di Grassi entre seus dirigentes vai lançar o primeiro campeonato de carros dotados de inteligência artificial – tecnologia vista como o fator que pode decidir a própria sobrevivência das marcas em um mercado cada vez mais competitivo.

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Com a mesma filosofia da criação da Fórmula E – da qual Di Grassi também participou – este novo campeonato deve tornar-se rapidamente um laboratório para diversas montadoras testarem sua tecnologia de veículos autônomos.

Para Lucas, a Fórmula E e a Roborace – nome da categoria de carros autônomos – manterão o esporte relevante para a indústria justamente por serem baseadas nos problemas técnicos que as fábricas ainda tentam solucionar.

“A proposta é: se você quer desenvolver e testar sua tecnologia, o melhor laboratório está na pista. Ou melhor, agora está. Por que até alguns anos o automobilismo deixou de lado o interesse técnico dos fabricantes para se concentrar somente no marketing. Isso agora mudou”, resume ele.

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A criação da Fórmula E causou uma mudança radical no comportamento da direção da Fórmula 1, que passou a buscar ensinamentos na categoria dos carros elétricos – um torneio que deve atrair em 2019 nada menos que doze marcas, algo que a Fórmula 1 nunca teve em seus 68 anos de história.

“O truque foi algo óbvio e conhecido há muito tempo, mas que jamais foi realmente colocado em prática: a Fórmula E passou a utilizar tecnologias que potencialmente podem estar nos automóveis de rua em um futuro muito próximo. Isso é o que mais interessa à indústria. E também repensou as corridas como entretenimento – algo muito desejado por todos os tipos de marcas. Por isso temos corridas aos sábado e em pistas de rua de grandes capitais. Basicamente, respondemos aos anseios de fábricas e fãs”, resumiu Lucas Di Grassi, atual campeão mundial de Fórmula E e também CEO da Roborace, empresa que desenvolve os primeiros carros de corrida autônomos do mundo.

Com fábrica e pista de testes situadas em Banbury, a Roborace fará uma exibição de seus carros autônomos no próximo sábado, quando a Fórmula E realizará a nona etapa da temporada, nas ruas de Berlim.

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“Temos feito essas demonstrações em várias etapas da Fórmula E, desde o ano passado, para mostrar que nossos carros estão em estágio avançado e já até competem entre si”, diz Lucas.

“A indústria sempre olha para a frente. Ela não pode se dar ao luxo de pensar somente no agora. Essa foi a filosofia que implantamos na Fórmula E e que agora estamos também usando na Roborace. A decisão de criar uma empresa especializada na competição de carros com inteligência artificial foi tomada pelo russo Denis Sverdlov, que hoje é o presidente da Roborace. Eu fui escolhido para ser o CEO da empresa. O panorama que vemos é o seguinte: da mesma forma que as fábricas se empenharam em entrar na F-E por causa do desenvolvimento de sistemas elétricos, vão também querer competir na Roborace por causa dos benefícios do desenvolvimento de carros de corrida autônomos”, completa.

Para Di Grassi, as corridas com carros autônomos vão oferecer oportunidades de desenvolvimento inimagináveis nas provas disputadas por pilotos humanos.

“Nós vamos superar o que é possível fazer nas corridas tradicionais justamente por não haver vidas em jogo”, explica ele.

“Poderemos, por exemplo, colocar dez carros correndo em sentidos opostos – cinco para cada lado – e a velocidades superiores a 400 km/h. Os carros vão se encontrar na pista e desviar milimetricamente uns dos outros. Isso a F-1 ou a F-E jamais farão. E nesse contexto você terá que produzir não apenas carros extremamente precisos e eficientes, mas também sistemas de controle e de segurança infinitamente mais rápidos e inteligentes. Dessas competições sem risco humano na pista surgirão os carros extremamente seguros do futuro”.

A proposta inicial da Roborace é que os fabricantes desenvolvam programas para serem empregados nos carros da categoria. Aos poucos, isso deve mudar.

“Basicamente nós vamos fornecer o hardware, ou seja, o carro – que no fim das contas é uma plataforma pronta para receber os softwares das fábricas”, explica.

“E as fábricas entrarão com seus programas de última geração. Esta é a ideia inicial, mas em um segundo momento poderá ser possível inscrever um carro 100% Audi ou Mercedes, ou de qualquer marca. É um processo similar ao que foi utilizado na F-E”, resume Di Grassi.

Nos testes da fábrica, os carros autômatos ainda não são capazes de superar os tempos de volta de pilotos profissionais. Mas já são melhores do que pilotos amadores.

“Vale lembrar o que aconteceu com o Deep Blue, o supercomputador que derrotou o gênio do xadrez russo Gary Kasparov em 1997. É algo semelhante ao que estamos vendo com o DevBot, nosso modelo que pode tanto ser pilotado por humanos quanto ser conduzido por inteligência artificial. Chegará o dia em que os pilotos profissionais não conseguirão acompanha-lo, simplesmente por que ele poderá andar no limite extremo o tempo todo. É uma questão de tempo. Já fizemos também vários tipos de testes, como corridas de carro autônomo versus outro autônomo. Os resultados são cada vez melhores. Estamos avançando rápido. Mas, como em todo trabalho de desenvolvimento inovador, acontecem imprevistos. Tivemos acidentes leves – e até com eles estamos aprendendo”.

Essa evolução passa também pelas limitações naturais do corpo humano.

“Vou dar um exemplo. Há um limite físico para quão rápido o olho humano pode enviar informação para o cérebro, que então passa instruções para as mãos ou pés do piloto. Atualmente os computadores já são capazes de responder 200 vezes mais rápido que um humano. Só isso mostra que chegaremos a um momento em que os carros de corrida autônomos competirão em velocidades que sequer imaginamos atualmente”, detalha o CEO da Roborace.

As fotos desta matéria são do modelo Robocar que será usado na estreia do campeonato. Segundo Di Grassi, o fato de não precisar de cockpit ou de elementos como volante de direção e bancos ajudou bastante no desenvolvimento aerodinâmico do projeto.

“É um carro bem interessante. A carenagem em forma de torpedo lhe dá extrema eficiência aerodinâmica. Então, ele pôde assumir a forma mais orgânica e aerodinâmica possível na concepção do designer, com linhas cilíndricas. A bateria gera 655 kilowatts, ou cerca de 900cv. O Robocar é capaz atualmente de atingir 300 km/h, mas poderíamos faze-lo andar mais rápido. Cada roda leva um motor de funcionamento independente, de forma que o torque bem distribuído fornece a melhor tração e estabilidade possíveis. O torque é de 300 Nm em cada roda, o que o torna cerca de dois segundos por volta mais rápido que o Fórmula E, por exemplo, nessa configuração”.

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