O competitivo mercado de carros eletrificados do Brasil acaba de ganhar um concorrente de peso, que promete movimentar, ainda mais, esse disputado segmento. Trata-se do Mustang Mach-E GT, primeiro carro totalmente elétrico vendido pela Ford na América do Sul, que desembarca em terras brasileiras após fazer sucesso no mercado americano, onde foi lançado em 2021, e que hoje disputa com a Tesla e GM a liderança de vendas no mercado de veículos elétricos nos Estados Unidos.
Antes de mais nada, convém esclarecer ao leitor que não se trata do lançamento da versão eletrificada do lendário “pony car” americano, e sim, de um SUV (crossover seria um termo mais adequado) que tem a missão de honrar uma das marcas mais icônicas do mercado de carros esportivos, sem abrir mão do conforto e da praticidade.
Externamente, podemos notar que o Mustang Mach-E não apenas compartilha o nome e do Mustang Mach 1, mas também incorpora muitos dos elementos de design icônicos do cupê esportivo da Ford. A grade hexagonal, os faróis afilados com o logotipo do cavalo no centro, as rodas de 20 polegadas e as lanternas traseiras com três linhas de LED na vertical, bem como o símbolo GT na tampa traseira, todos visíveis para dar ao Mustang Mach-E uma estética que evoca o estilo e a identidade visual do Mustang Mach 1.
Em termos de design, minha crítica vai para o sistema de abertura das portas que é feito por meio de um botão ou através de um teclado digital na coluna da porta (o destravamento também pode ser feito via celular). Ao se apertar o botão ou digitar o código, a porta se abre e o motorista ou passageiro deve puxar a porta através de uma aleta lateral fixa.
Não sei se tal decisão foi tomada por razões financeiras, mas a Ford bem que poderia ter optado por um sistema de maçanetas escamotáveis, comumente utilizado em veículos de outras montadoras, como BYD, por exemplo. O sistema de abertura das portas desenvolvido pela Ford, é um tiro no pé se tratando em design e funcionalidade e transmite uma sensação de simplicidade que contrasta com a sofisticação esperada de um veículo do segmento premium.
Exceto pelo detalhe acima mencionado, em termos gerais, o SUV da Ford tem um visual irrepreensível que une na medida certa elegância e esportividade. Que o visual do carro contém vários elementos do Mustang Mach 1, isso é inegável. Mas e quanto a performance? Será que o SUV está à altura do nome que ostenta de forma tão incisiva?
A resposta é sim! O desempenho do Mustang Mach-E certamente está à altura do nome icônico que ostenta. O SUV possui dois motores (um em cada eixo) que, juntos rendem impressionantes 487 cv de potência e 87,7 kgfm de torque. Ao menor toque no acelerador, essa potência é despejada de forma instantânea, sendo capaz de deslocar o SUV de 2.281 kg da imobilidade aos 100 km/h em apenas 3,7 segundos. Desempenho bem semelhante ao Mustang Mach 1, movido a gasolina, cujo motor V8 de 5 litros, rende 483 cv e consegue levar o veículo de 0 a 100 km/h, em 4,3 segundos (06 décimos mais lento que o SUV elétrico).
Não obstante ao fato de que o SUV tem sua velocidade eletronicamente limitada em 200 km/h, o carro é extremamente veloz e gostoso de dirigir. Ao pisar no acelerador, o carro ganha velocidade de forma impressionante, enquanto o impressionante sistema de som do SUV, emula o ronco de um autêntico motor V8 (recurso pode ser desativado), tudo para proporcionar uma experiência mais imersiva e emocionante para o motorista.
Infelizmente, não foi possível dirigir o SUV, mas a Ford nos deu permissão para acompanhar um piloto de testes em 01 volta rápida na pista de testes da montadora. O “teste” foi rápido, mas foi suficiente para comprovar o desempenho de esportivo Mustang Mach-E. Mas nem só de desempenho vive um esportivo, é preciso que o carro também seja extremamente estável e manobrável. E na ocasião, pude comprovar que o veículo, foi igualmente bem sucedido em ambos os quesitos, sendo capaz de “grudar” no asfalto e fazer curvas em alta velocidade com uma segurança impressionante.
O segredo da excelente dirigibilidade do SUV de 2.281 quilos e 4.743 metros de comprimento, está em sua tração integral, e sua suspensão que conta com amortecedores que são regulados eletronicamente de acordo com o terreno e como estilo de condução do carro. Na parte de trás, o SUV conta ainda com freios a disco e suspensão do tipo multilink. Além disso, as baterias do Mustang Mach-E são montadas no chassi, proporcionando ao SUV possui uma distribuição de peso ideal, que pode contribuir para uma melhor aderência e estabilidade. E nos momentos que precisaram ser acionados, o sistema de freios da Brembo deu conta do recado, sendo capaz de parar o veículo com segurança e rapidez.
Vale lembrar que, visando evitar uma sobrecarga no sistema elétrico, a Ford resolveu limitar eletronicamente a velocidade do SUV em 200 km/h, no entanto, essa decisão não compromete, de forma alguma, a proposta esportiva do veículo.
O carro é extremamente veloz e, caso o motorista queira pisar fundo no acelerador, sentirá o carro ser “catapultado”, enquanto o impressionante sistema de som do Mustang Mach-E, emula o ronco de um autêntico motor V8 (recurso pode ser desativado), tudo para proporcionar uma experiência mais imersiva e emocionante para o motorista.
Em termos de autonomia, o Mustang March-E é equipado com uma bateria fornecida pela LG com capacidade de 91 kWh, garante uma autonomia de 379 km no padrão do Inmetro, ou 541 km pelo método WLTP. A confiabilidade do conjunto elétrico (motores e bateria) é garantida pela Ford que oferece ao comprador uma garantia de fábrica de 8 anos ou 160 mil km. Se tratando do carro, a Ford oferece 3 anos de garantia sem limite de quilometragem, com revisões gratuitas durante todo o período.
Passando ao interior do carro, com um comprimento de 4.743 mm e um entre eixos de 2.984 mm, o veículo oferece espaço suficiente para acomodar 05 passageiros com relativo conforto. No banco traseiro, o SUV permite que passageiros com 1,80 m de altura se acomodem confortavelmente sem bater a cabeça no teto ou tenham problemas com o espaço para as pernas em relação ao banco dianteiro.
Na hora de transportar a bagagem dos seus ocupantes, o Mustang Mach-E disponibiliza um porta-malas de abertura elétrica com uma capacidade de 402 litros. A novidade fica por conta do “Frunck”, trata-se de um porta-malas dianteiro, totalmente lavável e drenável que oferece um volume de carga adicional de 139 litros. Como nem tudo são flores, visando ganhar espaço para bagagem, a Ford optou por vender o Mustang Mach-E sem o pneu sobressalente. Em seu lugar, foi disponibilizado apenas um kit de reparo emergencial.
O Mustang Mach-E chama atenção pelo cuidado com os detalhes e a qualidade dos materiais empregados no acabamento. O interior do SUV é impecável, deixando claro o esforço da montadora em imprimir ao seu produto um acabamento esmerado, digno dos veículos do segmento premium.
O painel do carro, é todo em soft-touch com detalhes em metal e couro aveludado. Por trás do volante (que conta com regulagem de altura e profundidade), temos um quadro de Instrumentos digital de alta resolução que mede 10,2 polegadas. Contando com diversos modos de customização, o painel é simples de operar e de fácil visualização, permitindo o acesso rápido e intuitivo acesso fácil e intuitivo às informações sobre a autonomia e o status da bateria.
No centro do painel, a Ford disponibilizou um primoroso sistema de sistema de Infoentretenimento chamado de SYNC 4A. O sistema trabalha em conjunto com o painel de instrumentos e conta com uma generosa tela de 15,5 polegadas de alta definição que oferece uma ampla gama de recursos de entretenimento e conectividade.
O conjunto impressiona pela beleza e pela inclusão de um botão físico giratório que pode ser bastante apreciado por aqueles que preferem a sensação tátil ao interagir com a tela. O sistema conta ainda com Apple CarPlay e Android Auto sem fio, GPS embarcado, carregamento sem fio, 06 tomadas USB além de servir de controlar praticamente todas as funções do veículo, inclusive o ar condicionado.
Se em termos de Infoentretenimento, o sistema SYNC 4ª dá um show de tecnologia, o segundo ato fica pelo sistema de som da Bang & Olufsen composto por nove autofalantes, além de um subwoofer e um amplificador de 6 canais com 560W de potência. O projeto de som implementado pela B&O inova ao incluir uma espécie de soundbar que integra todo o painel do veículo, proporcionando uma experiência imersiva única, capaz de impressionar aos ouvidos mais exigentes.
No mais, o Mustang Mach-E oferece bancos dianteiros com ajustes elétricos e aquecimento, porém só o do motorista traz três modos de memória. O SUV oferece ainda, nove airbags, teto solar, ar condicionado digital de duas zonas (poderia ser um sistema quadrizone com saídas no teto ou colunas para os ocupantes do banco traseiro), freio de estacionamento eletrônico, câmera com visão 360 graus, alerta de ponto cego, controle de cruzeiro adaptativo e frenagem automática de emergência.
Por fim, merece destaque o enorme teto solar instalado no veículo. Praticamente todo o teto do veículo é feito de vidro composto por um revestimento termo refletivo que, segundo a Ford, é capaz de bloquear o calor e a radiação solar excessiva, mantendo o interior do veículo mais fresco e confortável.
Infelizmente não há como abrir o teto, nem tampouco foram instaladas persianas que permitam o seu fechamento. Como o contato com o veículo foi breve, não pude avaliar se a incidência da luz solar no interior do veículo é capaz de interferir na dirigibilidade.
Disponibilizado apenas na versão topo de linha GT Performance, a Ford está trazendo o Mustang Mach E pelo preço de R$ 486.000,00 (praticamente R$ 1.000,00 por cv). A estratégia da Ford é posicionar o SUV no segmento premium de veículos elétricos no Brasil.
Na verdade, a Ford não quer apenas competir com outros SUVs elétricos de marcas premium, como o BMW iX3 e o Volvo XC40, mas também quer disputar mercado com outros modelos esportivos elétricos, como o Audi e-tron GT, o BMW i4 e o Porsche Taycan. Essa estratégia demonstra a ambição da Ford em atrair um público que busca tanto desempenho esportivo quanto um alto padrão de luxo e exclusividade.
Ao fim da apresentação do veículo, não restou duvidas acerca dos atributos do SUV, mas a pergunta que fica é: o Mustang Mach-E por R$ 486.000,00 vale a pena? Após ponderar, cheguei a conclusão que, dependendo do perfil do consumidor, a resposta poderá ser sim ou não.
Dentro do segmento de veículos elétricos esportivos, o Mustang Mach-E chega ao Brasil com um custo-benefício imbatível. Se o consumidor comparar, verá que “SIM”, o SUV da Ford vale muito a pena, pois está no mesmo patamar de qualidade e performance que a concorrência, sendo, em vários itens, superior aos seus concorrentes, cobrando um preço menor por isso. Nesse aspecto, a estratégia da Ford parece acertada e o SUV tem tudo para repetir no mercado brasileiro, o sucesso obtido no mercado americano, devendo liderar esse segmento do mercado automotivo.
Por outro lado, os chineses estão dominando o mercado de veículos elétricos no Brasil, desembarcando no país uma variada gama de veículos eletrificados, como o recém chegado BYD Seal.
Se o consumidor deixar a emoção um pouco de lado, e queira abrir mão icônica marca “Mustang”, caso esteja disposto a abrir mão de um SUV para embarcar em um sedan esportivo, poderá dizer “NÃO” ao Mustang Mach-E e optar pela compra de um BYD Seal, que é capaz de entregar uma performance semelhante ao Mustang Mach-E, por um preço bem menor e, com a diferença, o consumidor ainda poderá levar pra casa um Corolla Cross GR-Sport 2.0 (R$ 192.890) ou um Honda HR-V Advance 1.5 turbo CVT (R$ 186.600). É um caso a se pensar, não é verdade?
Se o Mustang Mach-E fará sucesso no Brasil, só o tempo dirá. Como demonstrado acima, quando comparado com outros concorrentes do segmento de esportivos elétricos, o carro se destaca como uma excelente opção de compra para aquele consumidor qie não abre mão da performance e exclusividade. Por outro lado, terá dificuldade de conquistar aquele consumidor que quer um carro elétrico premium, mas não tem um orçamento tão generoso.
Seja como for, não resta dúvidas que a Ford foi bem sucedida ao dar ao Mustang Mach-E uma abordagem de design, que combina elementos do Mustang Mach One, com a funcionalidade de um SUV elétrico. A montadora acertou na mosca ao agradar os entusiastas da marca, que não abrem mão da experiência de uma condução esportiva, mantendo ao mesmo tempo o conforto e a praticidade de um SUV.
Com Fábio Silva, de Tuiuti, SP, atendendo convite da Ford América do Sul.
