Morreu o sósia de Mário Covas. Plínio Augusto de Camargo tinha 61 anos. Foi o principal destaque da Ala Amigos de Covas, da Escola de Samba Leandro de Itaquera. Na passarela, recebeu aplausos a torto e a direito.
Emocionou-se. Passou mal. E, como dizem por aí, dormiu e acordou morto. No mundo nada se perde. Tudo se aproveita. De Plínio Augusto fica uma palavra. Sósia é ter a cara de um e o focinho do outro. No começo, sósia dava nome a uma pessoa.
Era personagem da comédia Anfitrião, de Plauto. Na peça, Mercúrio e Júpiter vêm ao mundo com a cara de Sósia. Os dois papéis são representados pelo mesmo ator. Na versão, sobrevive o personagem. Aí, sósia virou substantivo comum.
“O livro é a única imortalidade.” Rufus Choate
Praga
Está lá, no bloco J da SQN 206. Um cartaz anuncia: “Favor identificar-se junto à portaria”. Cruz-credo! Junto a virou curinga. No recall, as montadoras pedem aos clientes “marcar hora junto à gerência”.
Os jornais dizem que a Argentina “negocia empréstimo junto ao FMI”. Xô! A locução junto a gosta de ser usada com significado físico.
Joga no time de ao lado de, em companhia de: Parou junto ao portão. Estava no cinema junto aos irmãos. Não é isso? Vire-se. Busque a preposição adequada: Favor identificar-se na portaria. Os clientes devem marcar hora na gerência. A Argentina negocia empréstimo com o FMI.
Variedade 1
Bruno Câmara mora em Olinda. Ele tem várias qualidades. Uma delas: quando fala, olha fundo nos olhos da pessoa. Com o tempo, se deu conta de que existem poucos olhos iguais. Há mil e uma nuances que diferenciam uns de outros.
Surgiu, então, uma dúvida. Por que, no plural dos adjetivos indicadores de cor, só claro e escuro se flexionam? As outras indicações de tonalidade ficam invariáveis. O mistério tem um porquê? Tem. É a velha história dos adjetivos compostos.
Quando os dois elementos são adjetivos, o primeiro apela pra lei do menor esforço. Acomoda-se. Deixa a dureza com o segundo: olhos castanho-claros, olhos azul-escuros, olhos verde-claros.
Variedade 2
Às vezes, quem responde pela diferença é um substantivo. É o caso de verde-mar, castanho-avelã, azul-bebê, verde-canário. Ora, mar, avelã, bebê e canário são substantivos. Não indicam cores. Então, a língua recorre a um truque.
Deixa subentendida a expressão da cor de. Com ela, o substantivo não tem saída. Fica sempre no singular: olhos verde-(da cor do) mar, olhos castanho- (da cor da) avelã, olhos verde-(da cor do) canário.
Variedade 3
Ultravioleta e infravermelho não são adjetivos compostos. Mas jogam no time dos duplos. Violeta é substantivo. Não se flexiona. Vermelho é adjetivo. Varia: raios ultravioleta, raios infravermelhos.
Ser prudente é…
Inspirar-se no mineiro que está à beira da morte. Antes de lhe dar a extrema unção, o padre diz:
n Para descansar em paz, você deve reafirmar sua fé em Cristo e renegar o demônio. Repita comigo: “Eu renego o demônio”.
O velhinho olha para o padre, mas fica calado.
n Vamos, meu amigo, repita comigo: “Eu renego o demônio”.
O velhinho continua calado. E o padre:
n Por que você não quer renegar o demônio?
O velhinho olha para o sacerdote e, com voz trêmula, murmura:
n Enquanto eu não souber para onde vou, não quero me comprometer com ninguém.
Interessa?
Sabe qual o coletivo de baleia? A dúvida desafiou o João Luís. Procura daqui, pesquisa dali, eureca! É baleal.
Leitor pergunta
Acredite se quiser. Até hoje tenho dúvida no emprego do lhe. Pode me dar umas dicas? Monika Souza, lugar incerto
O pronome lhe tem duas funções:
1. Objeto indireto. No caso, complementa o verbo transitivo indireto. Lembra-se dele? É o que quer distância do objeto. Entre ele e o complemento, aparece sempre uma preposição:
n Dei o livro a Maria. Dei-lhe o livro.
n Ofereci o livro a João. Ofereci-lhe o livro.
n Obedeço ao diretor. Obedeço-lhe.
2. Adjunto adnominal. Aí, substitui o pronome ‘dele’ e o possessivo ‘seu’: n Luís quebrou a asa do pássaro (asa dele). Luís lhe quebrou a asa.
n Mudou a mentalidade do chefe (mentalidade dele). Mudou-lhe a mentalidade. *Fiz seu trabalho. Fiz-lhe o trabalho.
Dad Squarisi – dad@cbdata.com.br
Dica de Português é uma coluna semanal do Diário de Pernambuco – Pernambuco.com
Mensalmente você encontrará na atualização da seção Engenharia um novo texto.